sábado, 20 de setembro de 2008

Camila

Sexta feira - 12 de setembro de 2008
Ele chega na universidade e encontra tudo na mesma. Nem parece ter faltado a semana inteira.
Os mesmos alunos desenham no quadro, os mesmos alunos conversam sentados na mesa do professor. Ele se senta na cadeira de sempre e abre seu caderno como costuma fazer.
- Sumiu, hein?
- É... surgiram algumas coisas aí e não deu pra eu aparecer esses dias. Depois me empresta as matérias?
- Claro!
Nessa hora ela chega na sala e, meio surpresa, vê que ele está de volta, com um sorriso no rosto.
Os olhares de ambos se encontram. Ela desvia o olhar. Ele, educado como sempre, diz:
- Oi, como é que cê tá?
- Estou bem. E você?
- Nunca estive melhor. - ele responde com sinceridade.
Em silêncio, ela se senta em seu lugar e, imaginando se ele estaria falando a verdade, não diz mais nada até uma amiga chegar.
Então mais alguém entra na sala. Camila pára e olha para ele, sentado no lugar que ela ocupou nos outros dias da semana. Ao perceber a garota parada na porta, ele pergunta:
- Quer se sentar aqui, Camila?
- Não. Aqui tá legal. - diz a garota se sentando ao lado do colega. - Por que você sumiu?
- Ah, eu andei meio doente. Peguei uma gripe do meu irmão e fiquei de cama esses dias.
- Mas você tá melhor?
- Como eu acabei de dizer pra ela, - diz ele olhando pra trás - nunca estive melhor!
- Que bom! - disse Camila com um sorriso, iniciando uma duradoura conversa.
No meio da aula de filosofia, o professor diz que terá um trabalho em grupo de 5 pessoas.
Ela espera que ele a chame para fazer um grupo. Mas Camila se vira para ele e diz:
- Você já tem grupo?
- Não.
- Vamos fazer esse juntos?
- Ah, vamos sim! - disse ele sorrindo.

Quarta feira - 17 de setembro de 2008
Ela observa ele e Camila conversando num corredor da universidade. Eles estão muito juntos. Mas, por que será que ela se importa tanto com como eles estejam? Ele só não é mais um amigo? Camila está muito próxima dele. Ele é muito otário, fica ali, caindo no joguinho sujo de Camila. Olha o jeito que ela brinca com seus cachinhos. Está claro que ela tá jogando charme pra ele e ele está engolindo a isca!
Ela espera Camila se distanciar e vai falar com ele.
- A Camila é legal, né?
- É sim. A gente tá se dando muito bem!
- Eu vi... Vamos no cinema amanhã a noite?
- Poxa, eu adoraria ir, mas não posso.
- Vai sair?
- Não. Vou ler uns textos da Marta...
- E sexta?
- Marquei de sair com a Camila. Nem vai dar...
- Tá legal. - diz ela desapontada.

Quinta feira - 18 de setembro de 2008
Ela chega cedo à universidade e encontra Camila sozinha dentro da sala. É a chance que esperava para poder conversar com a garota.
- É, Camila, vi que você arrumou um grande amigo aqui na facul!
- Pois é... Ele é um cara tão legal!
- O que é que tá rolando entre vocês?
- Só amizade.
- Sério mesmo?
- Sério mesmo. Por que?
- Por nada!
- Ah, pensei que você começou a se preocupar com ele de repente.
- Como assim?
- Ele me contou o que aconteceu entre vocês dois. Me disse o que você fez com ele.
- Não sei do que você tá falando...
Nessa hora, ele entra na sala e as encontra, uma de frente para a outra.
- Ah, oi... - diz ele sem graça, sentindo a tensão no ar.
- Vem, vamos dar uma volta. - diz Camila pegando sua mão.
Ela os vê saindo da sala e se senta numa cadeira. Sozinha, em silêncio, arrepende-se do que disse na semana anterior e percebe que não o vê do mesmo jeito. Ela não o quer mais apenas como um amigo. Quer estar no lugar de Camila, conversando com ele, andando pelos corredores da ECO com ele. Mas percebe que é tarde demais para tentar se aproximar dele.

Lucas C. Silva

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A chopada

Quinta feira - 4 de setembro de 2008
Música rolando alta na Praia Vermelha, alunos de Comunicação Social bebendo na praia. Isso que ele encontra ao chegar na chopada.
Cumprimenta amigos e desconhecidos, pega uma lata de cerveja e vai dançar com a turma. Continua o mesmo péssimo dançarino de sempre, mas não está nem aí. Quer mais é se divertir. Alguém cutuca suas costas e, ao virar-se, uma ótima surpresa. Ela, mais linda do que de costume, o abraça e ele retribui com um beijo em seu rosto.
A música continua rolando e, entre uma dança e outra, eles vão ao bar buscar outra cerveja. Cantam, dançam, bebem, riem e conversam. E a hora passa. Por volta de 0:30, já tomados pelo cansaço, eles se distanciam do grupo e se sentam na areia. E ficam lá, sentados, olhando para o Pão de Açucar e para as luzes de Niterói, ao longe, enquanto conversam.
Talvez pelo efeito do álcool, ou pelo clima mesmo, ele olha para ela e cria coragem para revelar o amor que vem nutrindo há algum tempo. Mas, antes que possa dizer algo, estão enroscados um no outro, se beijando.

Segunda feira - 8 de setembro de 2008
Ele chega na universidade louco para vê-la novamente. Senta-se sozinho no Laguinho e lê alguma coisa enquanto espera. Alguns alunos chegam, conversam com ele sobre a chopada de dias atrás e saem. Mas ela não chega.
Quase na hora da aula começar, ele, mais uma vez sozinho naquela mesa, olha para o corredor e a vê chegando. Ela o vê, desce o Laguinho e vem em sua direção. Meio que instintivamente, ele se levanta e quando vai abraçá-la, ela diz séria:
- Precisamos conversar.
- Tá.
- Olha só, sei que você gosta de mim, mas não vai dar certo nós dois juntos. O que aconteceu na praia na quinta... sei lá, foi coisa do momento... Eu nem sei direito porque fiz aquilo. Gosto muito de você como amigo e acho que é assim que as coisas devem continuar a ser.
Sem acreditar no que acabou de ouvir, ele não é capaz de dizer nada. Só olha nos olhos dela e balança a cabeça. Então se levanta e pega a mochila.
- Onde você...?
Ela não tem tempo de terminar a pergunta. Fingindo não ouvi-la, ele se vira de costas e sobe as escadas do Laguinho.
E nos dias seguintes, ninguém na universidade tem notícias dele...

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Ansiedade

Ele anda de um lado para o outro, levanta, senta, rabisca numa folha de papel, olha o corredor, olha o relógio e nada. Ouve uma música, mexe nas suas coisas, conversa com os amigos - que nem desconfiam o que passa em sua mente e em seu coração - e volta a se sentar e a esperar.
Uma pessoa passa pelo corredor e, com ela, vem o frio na barriga e o coração disparado. Não é quem ele espera. "Não, isso não está certo! Não tenho motivos para estar ansioso!" pensa. Se levanta e vai caminhar. Caminha pelos corredores da universidade tentando se convencer de que não há motivos para estar assim. Pára no bebedouro, bebe um golinho d'água. Pára na frente de um painel de avisos e procura por um estágio. Nada. Passa o olho também na programação cultural, nos anúncios esportivos, nos avisos de objetos perdidos sem prestar atenção em nada que leu. Sua mente está longe. Onde? Não se sabe. Ele senta numa cerca e começa a conversar com um amigo, pra ver se distrai.
Pessoas passam por ali, muitas delas em grupos, conversando sobre os mais variados assuntos. Algumas passam correndo, atrasadas, enquanto outras passam tranqüilas, rindo. Outras passam lendo uma das inúmeras xerox e alguns casais de namorados passam de mãos dadas. Mas quem ele espera, não passa.
Está na hora de entrar, quem ele espera não chegou, assim como o professor. Ele se senta em sua cadeira habitual. Um grupo de alunos, alguns sentados na mesa do professor, conversa e ri. Outros dois, estão no quadro, desenhando e conversando. E ele está ali, sentado, com o pensamento ainda longe. Se assusta quando Lucas o pergunta o que acha do desenho que acabou de fazer no quadro. Responde que gostou sem prestar atenção e volta a seus pensamentos.
Por mais que odeie admitir, ele sabe, está... Não, não pode estar! Acabaram de se conhecer, não pode estar assim, tão cedo. A imagem de sua prima lhe dizendo "você se empolga muito fácil" vem a sua mente, como se fosse sua consciência lhe dizendo isso. "Não, não estou apaixonado!" diz para si mesmo com convicção.
Alguém entra e o cumprimenta. É ela! Controlando a voz para que sua alegria não seja notada, responde, com um sorriso. Ela se senta ao seu lado e os dois conversam um pouco, antes de o professor chegar e começar mais uma entediante aula. Resistindo à tentação de olhar para ela, ele se restringe a olhar para o professor. E volta a amá-la em silêncio.

Lucas C. Silva