domingo, 22 de março de 2009

A incrível jornada

Parte 2 - Belo Horizonte
No episódio anterior...

O ônibus ainda andava pela linha vermelha quando o cara que se sentava do meu lado se virou pra mim e disse: "Será que daria pra você abrir a janela um pouquinho?"
Me sinto até um pouco culpado agora, mas aquele cara que eu estava suspeitando, se mostrou alguém muito simpático. Não sei seu nome. Tudo que sei é que ele é piauiense, estava morando em Minas havia pouco mais de um ano e veio ao Rio para fazer uns trabalhos pra firma dele.
Bem, não vou dar muitos detalhes da viagem, porque não tenho o que contar. Ela foi tranquila. O motorista não correu nem andou de vagar e, ao passar por Conselheiro Lafaiete, não vi a Bruna na estrada, como ela prometeu que estaria...
Chegando em Belo Horizonte que minha aventura começou de verdade. Antes, um pouco de lenga-lenga. BH sempre foi pra mim um lugar mágico, inalcansável. Sempre quis conhecer a capital do meu estado, mas meus pais não queriam ir pra lá. Só viajei pra BH mesmo em novembro de 2006, quando o Galo voltou à Série A do Brasileirão. Mas sempre viajei acompanhado, ou pelo menos alguém me buscou na rodoviária. Dessa vez eu estaria sozinho em Beagá.
Desci do ônibus as 5:40 da manhã de sábado, 14 de fevereiro de 2009. Eu precisava de arrumar um jeito de ir até o Teixeira Dias, na Zona Sul da capital. Cheguei pra um PM e perguntei a ele o que deveria fazer. Ele me disse que o mais seguro era pegar o metrô até a Estação Eldorado - em Contagem, Grande BH - e de lá pegar um ônibus pro Teixeira Dias. Do centro de BH até parte um ônibus pra lá, mas andar por ali de madrugada - e sozinho - não é das atitudes mais aconselháveis. Agradeci o PM e caminhei até a Estação Lagoinha.
Esperei uns 10 minutos até as cabines de vendas de tickets abrirem. Comprei minha passagem, desci até a plataforma de embarque e peguei o metrô. E que metrô esquisito o belo-horizontino! Não sei se era imperícia do condutor ou o que era, mas ele não acelerava e desacelerava de forma constante, automática, como acontece no Rio ou em São Paulo. Ele começava a acelerar, aí ia desacelerando, aí voltava a acelerar, e desacelerava. Sei é que teve uma hora que o condutor anunciou uma estação e o trem parou no meio do nada!
E nesse vai-não-vai, cheguei à Estação Eldorado. Lá um guarda me informou que eu deveria pegar o ônibus 1950. Caminhei até o ponto e fiquei esperando pelo ônibus. Sozim, de madrugada, num lugar estranho, vi o ônibus passar do outro lado da rua e perguntei pra umas pessoas se eu estava no lugar certo. Aí um cara, até simpático, me disse que eu poderia pegar o 2730, mas ele iria pra Estação Diamante. De lá eu poderia pegar outro ônibus pro Teixeira Dias.
Com pressa, louco pra chegar em casa e descansar (dormi pouco durante a viagem), peguei o 2730, que passou logo. E me arrependi amargamente. Como o cara disse, ele não iria pro Teixeira Dias, ele iria pra Estação Diamante. E nesse caminho ele passou por vários lugares que eu não conhecia. Pra quem conhece Contagem, ele foi até a Cidade Industrial, se não me engano. Morrendo de medo de me perder permanentemente naquela cidade estranha, fui rezando pra chegar logo.
Bem, não cheguei logo à Estação Diamante, mas cheguei. Lá descobri que deveria pegar o 314. Assim finalmente chegaria ao meu destino. Não demorou muito, um 314 passou pela plataforma. Eu dei sinal e o motorista apontou pra frente, seguindo direto. Corri toda plataforma atrás do ônibus, mas ele foi embora me largando pra trás. Xingando, voltei pra plataforma e vi que, na verdade, ele estava apontando pro 314 que estava parado na plataforma, esperando os passageiros.
Entrei no ônibus e, feliz por finalmente estar chegando, me sentei bem lá no fundão. O motorista entrou, ligou o busum e partiu. Quando ele estava saindo da estação, meti a mão no bolso e me perguntei: Cadê meu celular?
- Motorista! Ô Motô, pára o ônibus! pára o ônibus! - gritei.
Pulei do ônibus e, com a mala na mão, corri de volta para a plataforma. Estava convencido de que o celular havia caído do meu bolso enquanto eu corria atrás do outro 314. Durante minha corrida de volta, pisei em falso no meio fio, caindo no chão. Foi mala pra um lado, lente dos óculos escuros pro outro, minha imagem pro espaço, mas eu não tava nem aí. As pessoas me ajudaram a me levantar perguntando se eu estava bem e eu só perguntava se alguém havia visto um celular caído no chão.
Corri num bar e perguntei se alguém havia achado o celular. Nada. Perguntei pra algumas pessoas. Nada. Aí perguntei pra um cara de bigode se ele havia visto. Ele disse que não e perguntou se eu realmente estava com o celular na calça, e não no agasalho que estava usando. Foi quando meti a mão no bolso interno do agasalho e senti um alívio indescritível. Caindo de joelhos no meio da plataforma, numa cena bem teatral, agradeci a Deus por estar com o celular guardadinho no bolso da blusa.
Conversei com esse cara até chegar outro 314 (por concidência - ou não - o ônibus que tinha me deixado pra trás mais cedo. Entrei no ônibus e pedi pro motorista me deixar perto do posto da PM, imaginando que ele seguiria a Via do Minério - uma avenida importante da Zona Sul de BH - direta.
Cara, eu amo BH. Sim, aquela música do César Menotti e Fabiano tem razão, não existe lugar melhor que aquele. Mas a capital mineira tem um defeito gravíssimo, ou um charme irresistível, de acordo com seu ponto de vista. Ela é cheia de morros, e de morros íngrimes. E a casa do meu primo, onde iria me hospedar nessa semana que passaria por lá, ficava sobre um desses morros.
O ônibus me deixou onde eu pedi, no pé desse morro. Desci, agradeci ao motorista e vi, com muita raiva, o ônibus subir a rua do meu primo. E vi com mais raiva ainda, ele parar no ponto que fica literalmente no portão do meu primo!
Cansado, estressado, morto de fome e com uma mala pesada, subi o morro e, depois de umas 12 horas de viagem (contando o tempo que perdi, esperando em rodoviárias, estações e terminais de ônibus), finalmente concluí essa incrível jornada. E tive uma das melhores semanas da minha vida.

Lucas C. Silva

5 comentários:

Tyler Durden disse...

Rsrsrs....
Sair andando de ônibus por lugares que não conhecemos muito é bem assustador mesmo.
Mas aqui, 6:00 hs da manhã é madrugada? Que isso cara, já amanheceu faz mto tempo.

E tipo, cidade industrial é esquisitona mesmo.

Lucas Conrado disse...

Não, Tyler, é que ainda era horário de verão!

Euzer Lopes disse...

Rapaz, isso é que eu chamo de uma literal folia de carnaval...
Se foi em 14 de fevereiro, foi uma semana antes.
Deu pra fazer um mega baile... Com direito a perder o ônibus duas vezes por conta de um celular perdido nos bolsos de alguém que não dormiu à noite...
Boa viagem de volta pro Rio (sim, agora quero ver a terceira parte desta viagem. Porque não me convence que tenha sido somente uma das melhores de sua vida).

Bruna disse...

Da próxima vez te busco na rodoviária!! rsrsrsrs

Lucas Conrado disse...

Que fique bem claro que ela realmente me buscou na rodoviária quando voltei em BH!