segunda-feira, 27 de abril de 2009

Um poema num pedaço de papel...

Te prometi que escreveria um texto pra você, lembra?
Até ontem eu já não sabia direito o que escrever. Hoje, estou ainda mais perdido. Por isso, queria citar Pablo Neruda, uma poesia que você mesma me mostrou, e que tanto amei e que meio que fala o que estou sentindo, apesar de eu não concordar com dois versos aí. Espero que goste:

Posso escrever os versos...

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe."

O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a, e por vezes ela também me amou.

Em noites como esta tive-a eu nos meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi já.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido

Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, e ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.

Já não a amo, é verdade, mas tanto que eu a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.

Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta a tive nos meus braços,
a minha alma não se contenta com havê-la perdido.

Embora esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Obrigado por tudo. E também desculpa por isso...
Um beijo.
Te adoro.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sugestão do Meus Pensamentos

As Coisas Simpáticas da Vida - Felipe Peixoto Braga Netto

Por vezes a vida anda tão corrida, tão amarga, tão ingrata que acabamos esquecendo de suas coisas simpáticas. E Felipe Peixoto Braga Netto consegue nos lembrar dessas coisas com sabedoria, simpatia e delicadeza em seu livro As Coisas Simpáticas da Vida.
Nascido em Alagoas e morando em Belo Horizonte há anos, Felipe é a prova viva de que para ser mineiro, não precisa ter nascido no estado. Em várias crônicas do livro, o autor canta as belezas do estado, seus ipês, suas mulheres e seu sotaque, surpreendendo até os nascidos em Minas que nunca pararam para prestar atenção nessas características. Conheci seu trabalho justamente por causa de uma de dessas crônicas, talvez sua mais conhecida, Sotaque mineiro: é imoral, ilegal ou engorda?
Está certo que sou suspeitíssimo para falar sobre algo que fala (bem) de Minas, mas essa crônica sobre o "falar sensual e lindo das mineiras" é fantástica. Ele conseguiu, sem parecer forçado, reproduzir bem como os mineiros falam.
Mas Felipe não fala só de Minas. Nas páginas de As Coisas Simpáticas da Vida você ri e chora (talvez de rir) com as crônicas sobre o Zorro que bebe cerveja, Camões (seu cachorro), a linguagem dos juristas (Felipe Peixoto é procurador geral da República). Fica com muita vontade de conhecer (tá, gente, é a última vez que falo de lá) Minas e Maceió (estou louco para caminhar no mar em Ponta Verde). E não consegue não se emocionar com a carta de um pai para sua filhinha que ainda vai nascer.
Mas o que me interessou mais no livro foram as cronicas que falam, mesmo que indiretamente, de muitas das coisas que nos afligem e mostrar que pode haver sim uma luz no fim do túnel. Não, não é um livro de auto-ajuda. É um livro de crônicas, mas esse livro meio que nos anima, nos reconforta e muitas vezes nos descreve (e nossos sentimentos) de um modo incrível. Em várias crônicas, entre uma risada e outra eu me dizia: "sei não, mas acho que esse Felipe me observa e lê minha mente, porque está escrevendo coisas aqui que sinto, mas nunca contei pra ninguém."
O livro é simpático, verdadeiro, uma excelente companhia pros momentos alegres e tristes. Estou lendo o livro no mesmo período em que leio e ouço falar das obras de Nietzsche. E cheguei numa conclusão. Nietzsche pode até entender muito de conflitos, culpa, essas coisas, mas não entende nada sobre a vida. Não. Felipe Peixoto Braga Netto entende muito mais da vida, principalmente das coisas simpáticas da vida.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Ciclista também é gente.

Motoristas são engraçados. Vivem reclamando dos motoboys, lhes atribuindo a culpa de todos os problemas do trânsito nas grandes metrópoles (que não se resumem a Rio e São Paulo) do nosso país. Acusam os motoqueiros de encrenqueiros, de não respeitarem ninguém, de promover um pandemônio nas nossas ruas. Mas e vocês, motoristas, que moral vocês têm de acusar alguém de não respeitar as outras pessoas?
Não, não sou motoboy. Apesar de ter meus 20 anos nas costas, ainda não tenho CNH. O que me transforma num ciclista (sinceramente, se houvessem mais ciclistas nas cidades, muita coisa melhorava). E andando pelas ruas, seja da grande cidade do Rio de Janeiro, ou da pequena cidade de Carmo do Cajuru, vejo que, para o motorista, valho menos que um cachorro ou um monte de esterco.
Lá em Cajuru, depois que o senhor prefeito decidiu asfaltar a principal rua da cidade (já estava na hora!), o trânsito virou um inferno. Playboyzinhos querendo se exibir com seus carros, bêbados vindos da Barragem a toda velocidade, caminhoneiros loucos pra entregarem suas encomendas... Certa vez um carro dos Correios, querendo estacionar justamente onde eu andava (no canto da rua), quase me jogou pra cima de um caminhão que vinha a toda. Outra vez, eu descia uma colina e um retardado motorista decidiu que a hora certa de abrir a porta do seu carro era justamente quando eu passava por ele. Tive que jogar a bicicleta pro meio da rua, onde vinha uma caminhonete por distração daquele respeitável senhor.
E aqui no Rio. Quem conhece o bairro de Botafogo sabe que existem duas ruas principais. A Voluntários da Pátria, de mão única e que segue em direção à praia e a São Clemente, também de mão única (costumo dizer que o Rio é uma cidade mal planejada), que segue para Humaitá e Lagoa. No lado esquerdo da São Clemente começa uma rua, a Real Grandeza, que segue para Copacabana. Certa vez, vi que não vinha nenhum carro na faixa da esquerda da São Clemente e fui atravessar, de bicicleta, a Real Grandeza. Um filho da puta "motorista" veio da faixa direita e virou sem dar seta, quase jogando seu luxuosíssimo Honda Civic em cima de mim. Ele freou um pouco antes. Mas, estando em frente a um batalhão da Polícia Militar, queria que ele tivesse me acertado. Não em alta velocidade, mas queria que tivesse acertado. Aí ele ia ver o que dá virar uma rua sem dar seta!
Em outro dia, minha mãe ia passando de bicicleta no cantinho da rua e um caminhão a toda não a pegou por centímetros, igual a um Palio perto do Aeroporto Santos Dumont quase me atingiu.
Motorista não respeita nada. Não respeita ciclista, não respeita motoboy, não respeita sinal, não respeita setas, não respeita a própria mãe. E ainda vem cobrar respeito.
Depois bate o carro, se quebra todo, quebra pessoas inocentes, e não sabe porquê.

Tem motorista que não tem que tirar CNH, tem que tirar porte de arma.