sábado, 29 de agosto de 2009

A Garota Afegã

Sem querer fazer propaganda, mas já fazendo, sou muito fã da National Geographic. Tanto da revista, quanto do canal mesmo. O que mais me atrai na revista nem é tanto os textos (muito bem escritos, por sinal), mas as fotos mesmo. Se não forem as mais bonitas, estão entre as melhores fotos que já vi e, entusiasta de fotografia que sou, tenho muita vontade de fotografar como os caras da Nat Geo.
Por que estou falando disso? Muito por causa dessa menina aí do lado. Em 1984, o pessoal da National Geographic foi ao Paquistão registrar os refugiados da guerra que afligia o Afeganistão, durante a ocupação soviética naquele ano. O fotógrafo Steve McCurry conseguiu autorização para entrar numa escola do campo de refugiados para fotografar algumas meninas que estudavam por ali. Foi então que ele encontrou uma linda menina de olhos verdes e fez a fotografia mais conhecida dos mais de 100 anos da revista National Geographic.
Eu já havia visto essa foto inúmeras vezes, mas, apesar de achá-la muito bonita, nunca nem tive muito interesse em descobrir sua história. Foi então que comprei numa banca meio sebo, uma National Geographic de abril de 2002 cuja capa diz "Encontrada - A história de uma menina refugiada afegã, 17 anos depois".
Sharbat Gula vivia em 2001 (quando foi encontrada pelo mesmo fotógrafo que a tornara famosa) numa vila no Afeganistão com seu marido e três filhas. A moça, cujo nome ninguém soube por 17 anos, nunca soube da fama que sua fotografia conquistara internacionalmente.
Sua vida, como a de todo refugiado de guerra, foi sofrida. Aos seis anos perdeu os pais durante um bombardeio soviético à sua vila, uma de muitas que foram riscadas do mapa. Com os irmãos, foi se escondendo em cavernas até chegar ao campo de refugiados de Nasir Bagh, onde foi fotografada por McCurly. Se casou ainda jovem com Rahmat Gul, que trabalhava (à época da reportagem) numa padaria em Peshawar, no Paquistão, enquanto a moça (que tinha entre 28 e 30 anos, apesar de não parecer) vivia nas montanhas, para escapar da poluição da cidade, que afetava seus problemas respiratórios. O casal só ficava junto durante o inverno, quando Rahmat não trabalhava.
Hoje, em 2009, não se sabe que destino Sharbat levou. Graças a uma série de fatores, desde o isolamento geográfico de seu vilarejo, até mesmo às questões culturais do Afeganistão, fica muito difícil de se determinar o destino daquela menina de olhos verdes e de sua família.
Muitas coisas na foto chamam muito a atenção. Primeiro, a beleza da menina, apesar de toda adversidade. Na minha humilde opinião, é muito mais bonita que muita top model por aí. Mas, claro, o maior ponto de atenção nessa fotografia é, sem dúvida nenhuma, o olhar penetrante de seus olhos verdes. A capacidade de transmitir uma série de emoções através de um simples olhar de uma menina refugiada foi muito bem captada pela lente de McCurry.

Lucas C. Silva

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Esperando Aviões

- Gostaríamos de informar que o vôo Gol 3795 procedente de Confins acaba de aterrissar e em instantes começará o desembarque no portão 3.
O coração de Paulo disparou quando o sistema de som do Aeroporto Internacional do Galeão anunciou a chegada daquele vôo. Uma mistura de nervosismo e alívio tomaram conta do rapaz que caminhou até o portão de desembarque, onde outros amigos e parentes esperavam por seus entes queridos.
Suas mãos suavam frio, seu coração parecia que pularia do peito, a garganta estava seca e seu estômago revirava. Por mais que tentasse esconder - até de si mesmo - ele estava ansioso. A revista, que comprara meia hora antes para tentar se distrair, estava amassada entre suas mãos de tanto que ele a apertava. Quem a visse, não diria que ainda não havia sido lida.
Os segundos passavam como horas, e ninguém saía do portão. "Que merda! Cadê esse povo?" se perguntou em voz baixa, enquanto observava as pessoas ao seu redor que também esperavam. Então os primeiros passageiros surgiram.
Alguns saíam sem falar com ninguém. Outros corriam para os amigos e parentes e com abraços e beijos matavam a saudade. Um ou outro parecia desanimado, como se não quisesse ter deixado Belo Horizonte para trás.
Foi então que uma moça surgiu com duas malas imensas. Seu olhar se cruzou com o de Paulo e um sorriso radiante surgiu em seu belo rosto. Um frio na barriga que não sentia havia muito tempo atingiu Paulo que, sorrindo, foi ao encontro da ex-namorada e a abraçou, como se houvesse esperado por aquele abraço sua vida inteira.
- Bia! Há quanto tempo! - disse Paulo abraçando Beatriz, se perguntando se a soltaria.
- Nossa, Paulinho, que saudade!
- Pois é, eu também tava morrendo de saudade!
Os dois se soltaram e se olharam. Havia uma certa emoção naquela troca de olhares e nenhum dos dois conseguiu falar. Então Paulo quebrou o silêncio.
- Eu não disse que vinha te buscar?
- Pois é... Obrigada! Queria tanto ficar com alguém conhecido nas horas que ia passar aqui no aeroporto...
- Pra onde você vai mesmo?
- Itália. - respondeu a moça sorrindo.
- É verdade... você tinha me dito mesmo que queria fazer intercâmbio por lá. Parabéns!
- Obrigada!
O vôo de Beatriz sairia em um pouco mais de três horas, tempo que eles teriam para colocar as conversas em dia. Os amigos caminharam até uma lanchonete cujas janelas davam para o pátio de manutenção das aeronaves e lá falaram de tudo que havia acontecido naqueles tempos que andaram separados, ela em Minas e ele no Rio. Falaram sobre suas famílias, suas faculdades, estágios, viagens e afins. O único assunto que não tocaram foi o rápido namoro que tiveram quando mais jovens.
- Mas e aí, Bia, o que achou de voar? Gostou? - perguntou Paulo.
- Ai, é muito legal! Pena que foi rapidinho! - respondeu Beatriz sorrindo.
- Ah, mas o vôo pra Itália vai ser mais longo...
- É... - respondeu Beatriz olhando para o relógio. Então ela disse - Paulinho, acho que tá na hora...
- É verdade... - respondeu o rapaz desanimado, conferindo seu relógio de pulso.
Beatriz pegou uma de suas malas e Paulo pegou a outra. Do mesmo modo que os segundos passaram como horas enquanto ela não chegava, as horas passaram como segundos enquanto estiveram juntos E, em silêncio, os amigos atravessaram o aeroporto, até o guichê da Alitalia. Assim que Beatriz fez seu check in, virou-se para Paulo e disse, com um abraço:
- Paulinho, muito obrigada! Adorei passar esse tempo com você!
- Eu também adorei te ver! Você sabe que eu sempre me preocupo quando você viaja, então chegando em Roma, me liga!
- Aiai, você não muda! - disse Beatriz rindo - Fica tranquilo. Assim que eu chegar, te ligo sim.
Os dois se deram um abraço apertado. Beatriz ia virando para o portão de entrada quando Paulo pegou seu braço e, ao virá-la, beijou a moça do mesmo modo que o casal havia se beijado em sua primeira despedida, anos antes na rodoviária de Belo Horizonte. Beatriz, ao contrário do que imaginava Paulo, não resistiu. Passou os braços por trás do pescoço do rapaz, retribuindo todo o carinho que ele ainda tinha por ela.
O casal só terminou o beijo quando os alto-falantes anunciaram que aquela era a última chamada para o vôo de Beatriz. Ao se soltarem, Paulo disse:
- Ainda te amo, tá?
A moça sorriu com tristeza e lhe deu outro beijo. Então se virou e, sem olhar para trás, caminhou até o avião.
Do observatório panorâmico do Galeão, Paulo acompanhou com os olhos, cheios de lágrimas, o Boenig 747 que levava Beatriz. O rapaz, que nunca aceitou o fim do namoro, ficou ali até o avião sumir entre as nuvens, voando na direção do Oceano Atlântico.

Lucas C. Silva

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Trem Bala, transferência para o Fundão, etcetera e tal...

Se tem um assunto que causa polêmica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), esse assunto é o Plano Diretor UFRJ 2020. O Plano que, segundo a reitoria, pretende promover uma maior integração entre a Universidade e a cidade do Rio de Janeiro tem como uma de suas principais medidas, a transferência dos campi do Centro e da Praia Vermelha para a Ilha do Fundão. Polêmicas, opiniões e debates a parte, um outro fator acabou de apimentar ainda mais a discussão, a construção do Trem de Alta Velocidade (TAV), o famoso "Trem Bala" que ligará Campinas a São Paulo e Rio de Janeiro, em um primeiro momento.
Acontece é que em seu programa matutino na Band News FM, Ricardo Boechat leu uma nota lançada pela reitoria da UFRJ no site da Universidade sobre os projetos do "Trem Bala". O que a UFRJ tem a ver com isso? Simples, o projeto prevê que o trem passará por dentro da Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, trajeto esse que pode (leiam bem o que eu tô dizendo, pode) interfirir no Plano Diretor.
Porque, olha só o que que acontece. O Mauro me passou o Plano Diretor e na olhada que dei e de acordo com o que ele me disse, além dos novos prédios pra acomodarem os cursos que querem transferir (e que muitos alunos não concordam, que fique bem claro), estão pretendendo construir canais transformando a Ilha do Fundão em 3, ciclovias dentro da cidade universitária e um trem magnético no Campus, entre outras coisas. Como é que vão construir tudo isso com um trem bala cortando o campus?
Quem está lendo isso, deve estar pensando que eu estou do lado da UFRJ e contra a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que divulgou o trajeto do TAV. Sinceramente, não estou contra nem a favor de ninguém, até porque quem me conhece, sabe minha posição sobre a transferências dos campi pro Fundão. Eu só quero saber é o que será decidido dessa questão que interfere, direta ou indiretamente a minha vida e de todos os estudantes, funcionários da UFRJ e até das populações de inúmeras cidades.

*Se você quiser ler o artigo do Aloísio Teixeira, clique aqui. E se quiser ouvir o que Ricardo Boechat disse sobre isso, clique aqui pra fazer o download do audio (5.8 Mb) direto do site da UFRJ.

Lucas C. Silva