sexta-feira, 16 de março de 2012

O motorista, a moeda e o vale transporte.

História totalmente real, que aconteceu mais ou menos uma hora antes de eu postar esse texto aqui.

Saio do estágio e pego o ônibus para vir embora. O ônibus arranca e chega a minha vez de pagar a passagem. Estou com uma mochila cheia, um livro gigante na mão e com a outra, apalpo o corpo procurando meu vale transporte. Nada. Com dificuldade, coloco o livro entre as pernas e começo a procurar o vale transporte dentro da minha carteira. Nada.

A passagem de ônibus com ar condicionado aqui no Rio de Janeiro, custa R$3.10. Tenho no bolso por volta de R$ 2.30, R$ 2.45 no máximo. Não dá pra pagar nem a passagem de ônibus convencional (R$ 2.75). Enquanto mexo na carteira, ouço uma moeda cair. Olho rápido pro chão e vejo, no último degrau, lá perto da porta, uma moeda de 1 real brilhando. Com a maior dificuldade, ajeito o livro debaixo do braço, sento no chão, me inclino todo e pego a moeda. Quando me levanto, o primeiro diálogo entre eu e o motorista:

MOTORISTA: Conseguiu pegar a moeda?
EU: Consegui, sim.
MOTORISTA: Que bom. Se não tivesse conseguido, eu parava o ônibus aqui e abria a porta pra você pegar.

Ponto positivo pro motorista. Passa um pouquinho, eu não acho o vale transporte em lugar nenhum. Viro pra ele e falo, sem graça.

EU: Motorista, desculpa, eu não consegui achar o vale transporte e não tenho como pagar a passagem. Tem como você parar para eu descer?
MOTORISTA: Ué, se você descer, como vai pra casa?
EU: Sei lá... passo num banco, saco dinheiro e pego outro ônibus...
MOTORISTA: Faz o seguinte. Vou parar ali no próximo ponto, você desce e sobe na porta de trás. Aí você procura seu vale transporte com calma. Se você achar, volta aqui no cobrador e passa ele.
EU: Posso, mesmo?
MOTORISTA: Pode!

Ele parou e abriu a porta de trás para mim. Com medo de estarem pensando que eu estava querendo me aproveitar deles, fiz o que o motorista pediu e, com calma, achei o vale transporte dentro da mochila. Com a maior alegria e gratidão do mundo, voltei ao cobrador e passei o vale, girando a roleta e ficando tudo certo.

Você está deslumbrado com isso? Imagina como eu fiquei na hora (e ainda estou, enquanto escrevo isso)? Muita gente poderia ter mandado eu descer e me virar para conseguir pegar outro ônibus. Muitos motoristas, sequer teriam tido a preocupação de abrir a porta para eu pegar a minha moeda! Esse motorista, cujo nome eu não sei, se preocupou comigo, com mais um entre os milhares de passageiros que pega todos os dias! Talvez a gente nunca se viu, e provavelmente não vamos nos ver de novo. Não temos (ou tínhamos) o menor vínculo e ainda assim, ele estendeu a mão para me ajudar. Cara, é incrível isso!

Aí que a gente começa a pensar. Olha em que ponto nós chegamos. Quando uma pessoa ajuda a outra, nós ficamos surpresos! Ficamos deslumbrados. É tanta escrotidão no mundo que um gesto de ajuda é algo surpreendente. Se o motorista quisesse, ele teria me expulsado do ônibus e eu aceitaria calado, achando a coisa mais justa do mundo. Não, ele não me expulsou! É legal demais isso.

Legal não é o fato de ele ter deixado eu subir de novo, mesmo, aparentemente, sem ter como pagar pela passagem. O legal é que ajudou...

Eu poderia falar bastante sobre solidariedade aqui, sobre a forma que as coisas estão hoje em dia, mas não quero transformar essa postagem em algo filosófico ou mais meloso do que já está. Só queria compartilhar com vocês, leitores, o que aconteceu hoje e deixar alguma forma de agradecimento e, especialmente, parabenização ao cara.

São essas pequenas coisas que melhoram o nosso humor sensivelmente e ainda me dão um restinho de fé na humanidade.

2 comentários:

Bruna disse...

Bacana!

essas coisas a legram nosso dia e fazem a gente acreditar no ser humano, q existem pessoas solidárias!

Vassali disse...

Existem mtas pessoas solidárias e a gente tem que divulgar isso. na verdade, só vemos ser divulgado a violência, o negativo.
Parabéns pela postagem e que Deus continue te abençoando sempre.