quinta-feira, 12 de abril de 2012

Do tempo



Quem ao perder uma pessoa amada, seja por falecimento, por um belo "pé na bunda" ou por algum outro motivo, não ouviu a famosa frase "O tempo cura tudo"?

Para mim essa é uma mentira deslavada que os que nos amam nos contam cheios de boas intenções, para que a gente acredite na possibilidade mágica do esquecimento.

Não. O tempo não cura tudo. Pelo menos eu não vejo assim. Eu acredito que aquilo que esquecemos em virtude do passar dos dias, meses e anos na verdade não tinha tanta importância assim.


Pensar assim não é ser pessimista. Eu acho plenamente possível seguir em frente, ser feliz, dar a "volta por cima", mas também acredito que muitas vezes nessa quase obrigação de sermos felizes a qualquer custo e a todo tempo a gente não se permite sofrer.

Varremos para debaixo do tapete nosso sofrimento, tomamos pílulas de felicidade instantânea e gastamos horrores em cerveja/terapia/roupas ou qualquer coisa que nos aliene por um tempo de nossa dor.

Qual o problema em sofrer? Às vezes a gente precisa sim ficar triste, chorar, ficar de luto, gritar. Por que temos que ser eternas "polianas" em seu "jogo do contente"?

Não digo para ninguém se afogar e afundar na própria tristeza porque a gente merece sim ser feliz e certamente é preciso reaprender a andar, a respirar, a sentir, a querer, a sorrir sem a pessoa ao lado, mas isso demanda tempo. Não é uma semana que vai apagar da sua vida alguém que tanto lhe marcou.

Na verdade nem uma semana, nem alguns meses, nem vários anos. Mas isso não quer dizer que a gente vá deixar de viver, sabe? Só quer dizer que tal como ferro em brasa essas pessoas deixaram sua marca eterna em nós.

Não é rasgando fotos, doando as roupas, não pronunciando o nome ou destruindo os vestígios físicos que a saudade some. Porque ela não some. Ela fica ali quietinha e em certos momentos desperta. Um perfume, uma foto, uma lembrança e abre-se a comporta para uma inundação de sentimentos.

Eu não luto para apagar minhas saudades, nem finjo não serem minhas as dores que carrego no peito. A verdadeira resiliência para mim não é simplesmente voltar ao estado original como se nada tivesse ocorrido. É sim seguir em frente, um passo de cada vez, abraçando nossos medos, nossas dores, nossos amores mil.

Seguir em frente  não é esquecer quem nos marcou como se fosse nada, coisa à toa. Seguir em frente, acredito, é não ter medo de encarar que cada perda nos transforma e nos marca. É não ter medo de admitir nossas dores e mesmo assim buscar ser feliz.

Para a Bisa Bel e a Vó Lili. Meus eternos amores e minhas saudades mais fortes.

Tássia Veríssimo.

3 comentários:

Lu Piras disse...

Tássia,

Lindo o seu texto.
Eu me identifico com o seu sentimento.
Concordo quando diz que o tempo não apaga coisíssima nenhuma, nem mágoa, nem ressentimento, nem saudade, nada. Nós aprendemos a conviver com nossas dores e frustrações. Aprendemos a conviver com a saudade, e falo nela por que é um sentimento muito presente na minha vida. Nos adptamos porque somos seres humanos e temos nossas defesas emocionais para seguir adiante. Mas, a verdade, é que a saudade não some nunca. Não existe forma de matá-la. Eu já tentei e fracassei. Eu simplesmente ignoro-a.

Parabéns pelo texto.

Beijocas,

Ana Luisa (Lu)

Bruna disse...

Adorei o texto Tássia! Concordo com vc, mas continuo usando a frase "o tempo cura". pq p mim curar não é voltar ao estado original, não ter saudade e nem quer dizer q não vai ter sofrimento até lá. É mais para saber que o tempo tudo transforma. Mesmo que a saudade seja sempre grande e o carinho imenso, a gente muda e nossas memórias tbm. Nossas lembranças nos tocam de forma diferente a cada vez q nos lembramos destas pessoas queridas.

Alyne Bittencourt disse...

Confesso que não li tudo
Mas concordo em gênero, número e grau: o tempo não cura.

Principalmente se ficarmos passivos diante da perda, se continuarmos remoendo. Passam-se anos, novas histórias surgem, mas se não nos esforçarmos, sempre haverá um fantasma no canto escuro do quarto.