sexta-feira, 22 de junho de 2012

Um mineiro no Chile - Parte 1

22 de junho de 2011

Ainda não acredito que estou no avião, decolando do Galeão rumo a Santiago do Chile. Minha primeira viagem internacional esteve ameaçada. Por muito pouco, eu não estaria naquele avião.

Vulcão Puyehue, quase estragou a viagem! (foto: Ivan Alvarado/Reuters)

Explico: no dia 4 de junho, o vulcão Puyehue entrou em erupção, depois de uns 50 anos. As cinzas do vulcão se espalharam pela América do Sul, bloqueando os voos para o Sul do Brasil, Uruguai e Buenos Aires. Como eu faria uma conexão em São Paulo e outra na capital argentina, corri um sério risco de não consegui viajar.



Júlio Verne, nosso mascote na janela do avião.
(Foto: Lucas Conrado)
Bem, mas isso é passado. Faço um voo tranquilo e, num piscar de olhos, já estamos aterrissando no Aeroporto de Cumbica. Enquanto nos aproximávamos, vi Cangaíba, o bairro onde morei por 12 anos, e deu um apertinho de saudade no peito. Na cabeceira da pista, vi o gramado onde passei inúmeros domingos com a minha família. Saudade daquele tempo.

O aeroporto mudou bastante. A loja de lembrancinhas caríssimas que eu adorava não existe mais. E o McDonalds onde eu sempre almoçava com meu pai, vendo a preparação dos aviões no pátio, também está bem diferente. Não é mais aquele restaurante que costumava ser. Virou um balcão no final de um corredor.



Bem, ainda é meio-dia e meu voo para Buenos Aires vai partir só as 3 da tarde. Que tal passear pelo aeroporto? Nesse meio tempo, almoço (Quarteirão), viro meia garrafa de xarope, para ver se paro com essa tosse. Também caminho pelas janelas panorâmicas fotografando os aviões, e, em uma dessas paradas, conheço um mineiro, também fã de fotografia de aviação. Conversamos por um tempo, mas, não sei por que, não pergunto o nome dele. Deu a hora da partida, vamos para o portão de embarque internacional.

Depois de uma fila gigante na Polícia Federal, caminho por uma área do aeroporto onde eu nunca tinha ido. Me chama atenção dois caras, indianos provavelmente, com barba e turbante. Para onde eles estão indo? Bem, que seja, deu minha hora! Partiu Buenos Aires!



Estou sentado na minha poltrona na janela, quando chegam duas mulheres ao meu lado. Elas parecem meio confusas, dizem que tinham comprado o lugar na janela. Não, esse é o 28F, meu lugar. Olha aqui na passagem. O comissário chega e olha a passagem delas. 28D e 28E. Sinto muito, donas, a janela é minha mesmo.

Voo para Buenos Aires
(Foto: Lucas Conrado)
O avião decola. Um último olhar no litoral de São Paulo, onde passei muitas férias. Logo, sobrevoa uma área nublada que se estende, pelo menos, até o Paraná. Já está escurecendo e o céu começa a clarear. Não sei se estamos sobre o Rio Grande do Sul ou sobre o Uruguai. Vejo uma grande planície deserta e, bem no meio dela, uma única luzinha. Imagino que seja uma casinha no meio do nada!

Chove perto de Buenos Aires e o avião se prepara para pousar. Olho para baixo e vejo as ruas da cidade, com os carros passando de luzes acesas. Olho para eles e penso, que são pessoas de um país diferente, com costumes e cultura diferente, ouvindo o rádio nos carros em espanhol e, pela primeira vez, me senti em outro país.  O avião pousa e na hora que saio dele, sinto o frio de Buenos Aires bater como um balde de água fria! Sério, mesmo agasalhado, trocar o calor do avião pelo frio da cidade é interessante.

São 18h30. O voo pra Santiago só vai sair às 22h30. OK. Vamos procurar o McDonald’s pra jantar, depois uma lojinha de cartões postais pra minha coleção e depois arrumar alguma coisa pra fazer nesse tempo todo de “moradia” em Buenos Aires!

Logo de cara, o primeiro baque. Não posso sair do setor de embarque internacional do aeroporto. E não tem McDonald’s aqui. Vamos então arrumar alguma coisa pra comer naquela lanchonete maior ali. Um pão com presunto e queijo e uma lata de Coca-Cola. O que? Não tem pão com presunto e queijo? Beleza, me vê então esse sanduíche aí que você está dizendo e não entendo nada.

Pão com presunto gelado e seco, uma latinha de Coca-Cola, custando a bagatela de 50 pesos argentinos, o que dá uns 24 reais! Que maravilha!

Tom Hanks em O Terminal.
Me senti mais ou menos assim em Buenos Aires
(Foto: Reprodução)
Já são umas 22 horas, falta quase meia hora para embarcar pra Santiago. E, na boa, já estou de saco cheio. O setor internacional do aeroporto é relativamente grande, mas já fiz tudo que podia... Joguei videogame no free-shop, já olhei o mercado (caríssimo para quem só tem 47 pesos no bolso) algumas vezes. Babei um pouco na Ferrari que o aeroporto está sorteando e cansei de ver o pouco dos aviões que esse setor permite. Gastei mais 7 reais numa lata de Schweppes Citrus e comprei os meus postais. Filmei um pouco, li algumas páginas do Contato, do Carl Sagan e até tentei ligar a cobrar pra casa, sem sucesso... Que saco!

E, o que dizer dos argentinos? Tentei tirar uma foto do avião que me trouxe até ali, mas um funcionário do aeroporto me disse educadamente que não pode tirar fotos do pátio. OK. Com a câmera desligada e a lente devidamente tampada, passei pela alfândega, com um policial gente boa brincando, pedindo para tirar fotos e outro falando estupidamente que fotos eram proibidas. Os atendentes da banquinha de doces e de cartões postais respondiam às perguntas com um tom seco, meio arrogante. Na hora, fiquei com uma impressão ruim dos argentinos (pelo menos daqueles que trabalhavam no aeroporto), mas analisando hoje, quase um ano depois, acho que ficou meio a meio... 

Agora, algo que me impressionou, foi a paixão deles pelo futebol. Viajei no dia da final da Libertadores, entre Santos e Peñarol, eu acho. Até queria ver o jogo, mas as TVs estavam ligadas na partida do River Plate. Eu não sabia, mas o time estava lutando contra o rebaixamento. E o aeroporto PAROU na frente da televisão. Pilotos, comissários, passageiros, até os seguranças do aeroporto. Quando passavam na frente da TV, paravam para assistir ao jogo! Era impressionante!



Ok, são 22h30. Agitação entre os passageiros para Santiago, já está chegando a hora de embarcar. Mas, cadê o avião? A telinha avisa que o voo vai sair às 23h30. Legal, mais uma hora em Buenos Aires! Ninguém aparece para dar explicações...

23h30. Nem sinal do avião. Os funcionários da Gol explicam que o voo de São Paulo atrasou, mas não dão mais explicações. Meia noite. Ainda, nada. Será que o Vulcão Puyehue decidiu entrar em erupção novamente, fechando o espaço aéreo de Buenos Aires?

Próxima parte...

@OLucasConrado

Um comentário:

Tássia Veríssimo disse...

Lendo o seu texto lembrei dessa história com o vulcão e da tensão de talvez não conseguir embarcar que vc passou...Ainda bem que deu tudo certo e que a viagem foi ótima! Quantos aos argentinos acho que vc deu azar, pq a maioria dos com quem topei foram gentis ou pelo menos não grossos. Vai ver que estavam tensos por conta do jogo...rsrs