segunda-feira, 25 de junho de 2012

Um mineiro no Chile - Parte 4


25 de junho de 2011
Júlio Verne no Paseo 21 de Mayo (Foto: Lucas Conrado)

EU – Bruna, você terminou de ver o filme ontem?

BRUNA – Eu não, e você?

EU – Só vi até a parte que eles vão pra festa, e o cara deixa a mulher esperando ele na porta...

BRUNA – Eu vi até um pouco depois disso, depois dormi...

Pois é, nenhum dos dois conseguiu ver Que Pena Tu Vida até o final.

Saímos do quarto e vemos a mesa do café da manhã arrumada. Há algumas frutas, entre elas algumas das maiores maçãs que já vi na minha vida. Há um pão típico do país e uma geleia de uma fruta chilena cujo nome eu não sei, mas que é muito boa. Há dois casais sentados na mesa, falando em espanhol. A Bruna comenta comigo que um deles é da Espanha. Como ela identificou o sotaque espanhol ali eu não faço ideia.

De café tomado, eu levo o DVD de volta para a sala, enquanto a Bruna vai tomar banho. Ela conseguiu uma brechinha, na fila de pessoas para usar o único banheiro onde as pessoas estão tomando banho. Na noite anterior, a dona do albergue disse que, se a gente quisesse, poderia tomar banho nos dois banheiros da casa, era só pedir a ela para ligar o aquecedor de água. Vendo que o banheiro dos fundos estava vazio, peço a ela para tomar banho nele, e ela me responde que não dá, porque a janela havia se quebrado, e o frio lá fora estava muito forte.

Depois de quase todo albergue ter ido tomar banho, finalmente consigo ir, mas, Valparaíso, temos um problema!

EU – Ih, Bruna, deixei meu sabonete lá em Santiago, pode me emprestar o seu?

BRUNA – Claro, Lucas, leva a saboneteira junto.

EU – Obrigado!

Rua na parte alta de Valparaíso (Foto: Lucas Conrado)
Entro no banheiro. Mesmo aquele estando com as janelas fechadas, e o sol estar brilhando lá fora, tá muito frio! Você toma banho em uma daquelas banheiras com um chuveiro em cima, obviamente usando só o chuveiro. Termino o banho, me enxugo, visto as roupas e saio carregando minha toalha. A saboneteira da Bruna fica no banheiro...

Vamos embora do albergue. Passeamos novamente pela parte alta da cidade, podendo observar melhor suas casas. A arquitetura nessa parte de Valparaíso (ou Valpo, para os mais íntimos) é fascinante! Casinhas num estilo que imagino ser colonial, todas coloridas e bem conservadas. Ruas de pedra, que lembram um pouco Carmo do Cajuru e os já famosos cachorros de rua do Chile. Alguns muito grandes, e assustadores, mas completamente mansos.

Outra coisa que chama bastante atenção em Valparaíso é o clima totalmente cultural da cidade. As paredes de muitas casas e prédios têm grafitis lindos. Lembrei muito do ateliê do artista que vi na noite anterior. A cidade respira arte! É apaixonante!

Grafitti em Valparaíso (Foto: Lucas Conrado)

Sede da Armada Chilena, na Praça Sotomayor
(Foto: Bruna Acácio)
Descemos até o centro, mais moderno, porém não menos charmoso de Valpo. Andamos por uma avenida, até uma grande praça, em frente a um prédio imenso e num estilo bem clássico. É a praça Sotomayor e o prédio é a sede da Armada Chilena. A praça vai dar no Porto de Valparaíso.
Uma aula rápida de história: Até a construção do Canal do Panamá, nos anos 1920, Valparaíso era a maior, mais populosa e mais rica cidade do Chile, superando Santiago. Isso porque era parada obrigatória dos navios que queriam ir do oceano Pacífico para o Atlântico. Hoje, o porto tem um movimento menor que naquela época, mas ainda é bem movimentado.

OK, voltando ao diário. No caminho para o porto, passamos por um vendedor ambulante, com uns pinguins muito bonitinhos! Sem pensar duas vezes, peço um pra Tássia. Mas, percebo que meus trocados chilenos estão acabando. Só estou com uma nota de 10 mil pesos, que não queria gastar na hora. Percebendo o meu sotaque, o chileno diz que aceita notas de real! Ótimo! Tiro uma nota de dez reais da carteira e compro o pinguinzinho!

Barcos pesqueiros no Porto de Valparaíso
(Foto: Bruna Acácio)
Caminhamos até a feirinha, que vende de tudo. Desde pequenas pulseirinhas com bandeiras do Chile até enfeites caros, feitos de pedras. Paramos em uns ambulantes bem na entrada do porto e a Bruna compra para ela um par de brincos feitos de cobre e pedras típicas do Chile. Vejo um par feito com garfo derretido e lembro na hora da minha mãe. Não penso duas vezes, levo o brinco. A Bruna compra mais algumas coisas e, de brinde, ganha um chaveiro e uma pulseira com a bandeira do Chile.

BRUNA – Lucas, você usa pulseira?

EU – Não costumo, por que?

BRUNA – Ah, ganhei essa pulseirinha aqui e queria te dar. Isso é, se você quiser.

EU – Uai, quero sim. Obrigado!

No ambulante logo em frente, vejo barquinhos de diversos modelos dentro de garrafinhas. São muito legais, compro alguns para presentear os meus amigos. Bem, então já estou com os presentes dos rapazes da minha “panelinha” na faculdade, do meu irmão e da minha mãe. Faltam os presentes das meninas e do meu pai. Não sou bom para dar presentes, mas não é possível que naquela feirinha não tem nada que eu possa levar para eles.

Depois de andar e ver diversas barraquinhas, percebo que não, não tem nada de interessante para eles. Tal qual aconteceu nos mercadinhos de Santiago, ali tem muita coisa legal, mas que não é a cara das pessoas que quero presentear. Não vejo nenhuma de minhas amigas ou mesmo o meu pai usando um poncho, ou um casaco de lã de alpaca com as cores do arco-íris!

BRUNA – Lucas, eu acho que sei o que você pode dar para as meninas da sua turma.

EU – O que?

BRUNA – Tenho lá no El Punto umas encharpes que comprei para levar para o Brasil. Elas são muito bonitas e acho que as meninas vão adorar. Você não quer levá-las?

EU – Uai, você comprou essas encharpes. Você não queria levá-las?

BRUNA – Eu vou ficar no Chile até agosto. Até lá, compro outras.

EU – Tá... bem, se a gente não achar mais nada até eu ir embora, e não for problema pra você, eu aceito, sim.

Furnicular, o "elevador" de Valparaíso
 (Foto: Lucas Conrado)
Saímos do porto e estamos andando por uma avenida, na direção de outro furnicular. Ali na frente, tem uma barraquinha de Sopaipillas! Cara, desde que vi as crianças comendo uma em Santiago, estou louco para experimentá-las. Passo catchup e molho aji na minha e vou na direção do furnicular, comendo o salgado. Não lembro se expliquei antes o que é uma sopaipilla, mas explico novamente aqui: É uma massa frita, em forma de disco, feita de abóbora. Pode ser comida com molhos “salgados”, como maionese, catchup, mostarda e aji, ou “doces”, com mel, geleia, ou seja lá o que for.

Subimos no Furnicular e chegamos ao Paseo 21 de Mayo, o que eu imagino ser o mirante mais famoso de Valparaíso. De lá, dá pra ver toda a cidade, além do porto logo em frente. Sério, a vista é muito bonita! Tiramos algumas fotos e caminhamos até o Museo Naval Marítmo.

Um mineiro no Chile
(Foto: Bruna Acácio)
O museu é bem legal. Tem canhões, torpedos, quadros, roupas e outros objetos da história da Marinha do Chile, réplicas de navios (eu sou APAIXONADO por réplicas), entre outras tantas coisas. Mas o que mais me chama atenção no museu é a Sonda Fênix, sim, a sonda que resgatou os 33 chilenos em 2010! Como mineiro (nascido em Minas Gerais), viajando para o Chile, o que mais ouvi foi piadinhas envolvendo os 33 de Copiapó. Quando eu vi a sonda, fiquei louco para tirar uma foto! Era o verdadeiro Mineiro no Chile!

Descemos de volta para o centro da cidade pela escadaria mais charmosa que já vi em minha vida. Tanto a escada quanto o parapeito são repletos de pinturas e grafitis. Sento na escada para fazer uma foto e a Bruna se abaixa na minha frete, tirando uma das fotos mais legais que já fizeram de mim.

Eu sentado, na linda escadaria de Valpo
(Foto: Bruna Acácio)
Terminamos de descer, com a fome apertando. Paramos em um restaurante. Até então, só tinha comido lanches no Chile. Finalmente vou experimentar a comida do país! Olho o cardápio e tudo tem peixe. “Peixes são amigos, não são comida”! Então tem um prato ali: Salada e sopa de entrada, OK. Arroz, batatas gratinadas e bife de porco. Isso que é comida chilena? Não é muito diferente do que eu costumo comer no Brasil! OK, vai isso mesmo. A Bruna pega um prato semelhante, mas com filé de peixe.

Enquanto esperamos por nossos pratos, passa na TV aquele filme clássico da Sessão da Tarde, onde o cara morre e ressuscita como o cachorro da família. Quando eu era criança, sempre que esse filme passava na Globo, eu via com a minha mãe. Agora estou ali, em Valparaíso, vendo o filme dublado em espanhol. É melhor do que eu imaginava, passa pela regra dos 15 anos.

Chega primeiro a sopa. Aquela mesma sopa aguada de frango e ovo (eu acho), que a Bruna me ofereceu na USACH. Depois vem a salada. Gostosa. Aí vem o prato principal. Mais uma vez, é muito parecido com o que como no Brasil, mas está muito gostoso!


Trailer de Lembranças de Outra Vida, o filme do cachorro que vi enquanto almoçava em Valparaíso.

Terminamos de almoçar, o filme também acabou, voltamos a andar pela cidade. Na verdade, estamos atrás de um ônibus para Viña del Mar. Já está entardecendo e tudo o que eu quero é ver o sol se por no Oceano Pacífico. A Bruna quer me levar a uma praia em especial, afastada da cidade. Vamos ter que correr para chegar nela antes de o sol se por.

O ônibus segue pela orla, acompanhando a linha do metrô que liga as duas cidades. Elas são interligadas, então são os ônibus urbanos que fazem o trajeto entre elas. O problema é que, tal qual acontece no Brasil, as ruas estão carregadas de carros ao anoitecer. O que aumenta nosso senso de urgência.

O sol já se aproxima do horizonte e nada da tal praia chegar! Começando a ficar angustiado, agradeço à Bruna por querer me levar nessa praia mais bonita, mas eu queria ver o por do sol no Pacífico, fosse em qual praia fosse. Descemos perto de umas quadras de tênis e de umas pedras, onde dá para tirar umas fotos lindas.
E o sol se põe no Oceano Pacífico! (Foto: Lucas Conrado)

Caminho até a beira do mar e, tentando não molhar minhas botas, toco pela primeira vez no gelado Oceano Pacífico. Bebo um pouquinho de sua água, que é salgada que nem a do Atlântico. Na verdade, a maior diferença entre o Atlântico e o Pacífico é a cor mesmo. O mar do Chile tem uma cor bem mais forte que o do Brasil.

O sol já se pôs e vamos caminhando pela praia. As quadras já ficaram para trás e, no calçadão, há um parquinho, onde muitas crianças brincam. Me sento ao lado da Bruna na areia e ficamos conversando, vendo o mar em nossa frente e Valparaíso lá no horizonte. É uma noite bem gostosa, apesar do frio.

Pior que nem falei sobre Viña del Mar, né? Pois é, o pouco que vi do ônibus não me deixa fazer uma descrição precisa da cidade, mas pelo pouco que eu vi e que a Bruna me disse, Viña é uma cidade mais elitizada que Valparaíso. Prédios modernos, lojas de marca, carros chiques. É isso que vemos em Viña del Mar. Sinceramente, gostei muito mais do clima de Valparaíso.

Está ficando tarde e precisamos voltar a Santiago. Pegamos um ônibus e, com o trânsito mais livre, chegamos rapidinho na rodoviária de Viña del Mar. Com a passagem de volta na mão, passamos numa banquinha para comprar salgadinhos e refrigerante. Pego um pacote de diversos salgadinhos do Chile misturados e uma deliciosa Fanta Morango. Ela existiu no Brasil por um tempo, mas foi rápido. No Chile não existe a Fanta Uva. Lá é Laranja, Morango e Limão.

No ônibus para Santiago está passando um dos meus filmes favoritos: Peixe Grande, de Tim Burton. A Bruna ainda não viu esse filme e ela parece interessada na história. Mas, durante a viagem, acontece a seguinte conversa.



BRUNA – Lucas, quando a gente chegar no El Punto, vai estar rolando uma festa de despedida de algumas garotas e o Jaime vai estar lá. Bem, como você não pagou as duas próximas noites, você vai ficar “clandestino” no meu quarto, tudo bem?

EU – Aham... Mas o que tem a ver essa festa e o Jaime?

BRUNA – Então. Às vezes, algumas pessoas de fora ficam até tarde da noite no El Punto. E isso é proibido. O Jaime costuma ficar puto e expulsar essas pessoas de lá. Se isso acontecer com você, não se preocupe. A gente pega suas coisas, sai e fica andando pela rua até bem tarde, quando o Jaime já estiver dormindo. Aí a gente volta pro meu quarto!

Putz! Já não tenho boas experiências com entradas “clandestinas” com a Bruna. Agora existe o risco de o Jaime me expulsar de lá? Isso não vai dar certo! Vendo a preocupação no meu rosto, a Bruna diz:

BRUNA – Não se preocupa, Lucas. Tem muita gente morando no El Punto, se bobear o Jaime nem vai perceber que você pe de fora!

Pois é, até então, o Jaime não me viu e nem eu vi ele. Na noite que cheguei em Santiago e ele gritou para o Facu, a Lúcia e a Bruna irem dormir, eu já estava dentro do quarto, então só ouvi a voz dele. Na manhã seguinte, quando fui pagar minha estadia, ele não estava no prédio. Deixamos o dinheiro com a Fernanda para ela pagar ao cara. Realmente, eu poderia me passar por estudante do El Punto, mas ainda assim, não estava muito confiante que o plano ia dar certo.

Chegamos em Santiago, infelizmente, antes do fim do filme. Pegamos o metrô e, um pouco depois, estamos no quarto da Bruna e da Fernanda, no El Punto. Nenhum sinal do Jaime.

Conforme combinamos na primeira noite, iríamos subir a Cordilheira dos Andes no domingo, o dia seguinte. A Bruna pediu para que eu a esperasse no quarto, enquanto ela ia buscar as roupas para neve, que o pessoal tinha emprestado para a gente.

A Bruna já saiu há um tempo absurdo e nenhum sinal dela! Onde será que ela se meteu? Será que ela foi pra festa e se esqueceu de mim? Estou preocupado aqui, imaginando que, a qualquer momento, o Jaime vai abrir a porta e me enxotar do El Punto! Droga...

Depois de mais um bom tempo, a Bruna aparece no quarto, com vários agasalhos e algo de plástico enrolado, que parece ser um tapete. Os agasalhos são impermeáveis, perfeitos para a neve. O Décio, um rapaz que mora em Belo Horizonte, havia comprado aquelas roupas num brechó, a um valor muito mais barato que pagaríamos alugando. E estava nos emprestando completamente de graça! Perfeito!

EU – E o que é aquela coisa enrolada ali?

BRUNA – É um trenó, pra gente descer a montanha amanhã!

Um pouco depois, chegam no quarto a Flávia, o Vinícius e mais um pessoal. Eles se espalham pela cama e começamos a conversar, sobre o passeio do dia seguinte. A princípio, mais gente iria também, mas aconteceram alguns imprevistos e, pelo jeito, só vou eu e a Bruna. O Vinícius tem um jeito mais zoador e sua família é de Minas, apesar de morar em Campinas. Então ele se vira para mim, e olha com um pouco mais de atenção.

VINÍCIUS – Espera aí, isso aí que você está vestindo é uma camisa do Atlético Mineiro?

EU – Exatamente! Camisa do goleiro do Galo! Por que, você é atleticano?

VINÍCIUS – Não, em Minas eu sou cruzeirense!

BRUNA – Pois é, Vinícius, o Lucas não sabe escolher time.

E lá vem uma enchurrada de piadas futebolísticas! Nem no Chile eu escapo delas!

Depois de mais um tempo de conversa, o pessoal desce para a festa, me deixando sozinho com a Bruna. Eu queria ligar para o Brasil, pra dar alguma notícia pra minha família. Falo isso com a Bruna e a gente vai ao térreo, pra fazer uma ligação. Dou algumas moedinhas pra ela e digo o número de casa. Ela coloca as moedas no telefone e disca. Enquanto isso, olho para a parede e vejo uma coisa bem curiosa, no quadro de avisos. É um papel que instruia como se deve agir em caso de terremoto, algo que nunca imaginei ver! Minha reza para não precisar seguir aqueles passos é quebrada pela Bruna dizendo que a ligação caiu e o telefone engoliu as moedinhas.

BRUNA – Bem, tem uma lan house aqui na rua de trás onde eu sempre vou pra ligar pra casa, vamos lá?

EU – É caro?

BRUNA – Não muito. Vamos?

EU – Uai, vamos.

Sem estarmos devidamente agasalhados pra enfrentar a noite santiaguina e com preguiça de subir ao quarto andar pra buscar os casacos, estamos correndo pelas ruas do bairro, na direção da lan house. A Bruna corre na frente e eu vou seguindo logo atrás.

Lembro das vezes que atravessei a rua da faculdade correndo, com minha amiga Vanessa. Ela ia correndo na frente e eu logo atrás, fingindo que a perseguia aos berros, assustando as pessoas. A gente sempre brincava: “Imagina se alguém pensa que é de verdade e me enche de porrada?”. Penso a mesma coisa ali, em Santiago.

Chegamos na lan house. Tentamos ligar para o Brasil novamente, mas não dá certo. Dessa vez, sem prejuízo financeiro. É, só vou poder falar com a família na hora que chegar no Rio de Janeiro... Ou então mando alguma mensagem pela internet e fica tudo bem. Hora de correr de volta para a festa!

Aliás, a festa está bem divertida. Assim, não sou muito festeiro, me sinto meio que um peixe fora d’água. Acompanho a Bruna a princípio, ela me apresenta a alguns amigos de vários países. Na hora que ela entra numa rodinha de amigos pra dançar, eu, duro como sou, saio de perto. Vou atrás de alguém que conheço. Facu e Lúcia!

Como eu disse lá no começo, o Facu é argentino e a Lúcia é uruguaia. O Facu querendo aprender português, vira pra mim e fala, com um forte sotaque argentino:

FACU – Tu vais embora na primeirafeira?

EU – Desculpa, Facu, não entendi.

FACU – Você vai embora na primeira feira?

EU – Eu vou embora como?

FACU – Na primeira feira.

Não entendo o que ele diz, por causa do som alto e do sotaque argentino.

LÚCIA – Facu, creo que en portugués no es primeira-feira, es domingo mismo!

FACU – Ah, si! – e se vira para mim – Você vai embora no domingo?

EU (finalmente entendendo  o que ele tinha dito) – Ah, não. Vou embora na segunda-feira bem cedinho!

Pior é que a lógica dele faz sentido. Em espanhol, os dias da semana são nomes de planetas. Vendo os nomes dos dias em português (segunda, terça, quarta...) é fácil imaginar que o domingo seja a primeira-feira!

Um pouco depois, o Vinícius aparece e me chama pra jogar pingue-pongue com ele. Vamos, sim! Aviso logo que tem anos que não jogo, e que sou péssimo. Ele diz que também não costuma jogar, então está tudo bem. Uma raquetada, duas, três, o Vinícius marca um ponto. Tentando correr atrás da bolinha, piso nela sem querer e estrago a brincadeira. Que beleza!

Voltamos para a festa e, depois de conversar com um português que mora na Alemanha, cujo nome me fugiu (ele tentou falar comigo em espanhol a princípio, mas não rolou. Acabamos falando em português mesmo, ele com sotaque lusitano), um senhor com seus 50 e tantos anos entra no salão. Ele para bem perto de mim e faz um discurso. Parece estar bem humorado. Ao terminar o que tinha para dizer, se vira para mim, dá um sorriso e vai embora.

Esse é o tão temido Jaime.

Temos que acordar cedo no dia seguinte e estamos mortos de cansaço. Por isso, eu e a Bruna subimos para o quarto ainda cedo. Se tivermos ficado uma hora na festa foi muito. Passamos pelo salão de entrada e vemos algumas pessoas socorrendo alguém muito mal de bebida e subimos a escada, para irmos dormir.

@OLucasConrado

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