
Por que estou falando disso? Muito por causa dessa menina aí do lado. Em 1984, o pessoal da National Geographic foi ao Paquistão registrar os refugiados da guerra que afligia o Afeganistão, durante a ocupação soviética naquele ano. O fotógrafo Steve McCurry conseguiu autorização para entrar numa escola do campo de refugiados para fotografar algumas meninas que estudavam por ali. Foi então que ele encontrou uma linda menina de olhos verdes e fez a fotografia mais conhecida dos mais de 100 anos da revista National Geographic.
Eu já havia visto essa foto inúmeras vezes, mas, apesar de achá-la muito bonita, nunca nem tive muito interesse em descobrir sua história. Foi então que comprei numa banca meio sebo, uma National Geographic de abril de 2002 cuja capa diz "Encontrada - A história de uma menina refugiada afegã, 17 anos depois".

Sharbat Gula vivia em 2001 (quando foi encontrada pelo mesmo fotógrafo que a tornara famosa) numa vila no Afeganistão com seu marido e três filhas. A moça, cujo nome ninguém soube por 17 anos, nunca soube da fama que sua fotografia conquistara internacionalmente.
Sua vida, como a de todo refugiado de guerra, foi sofrida. Aos seis anos perdeu os pais durante um bombardeio soviético à sua vila, uma de muitas que foram riscadas do mapa. Com os irmãos, foi se escondendo em cavernas até chegar ao campo de refugiados de Nasir Bagh, onde foi fotografada por McCurly. Se casou ainda jovem com Rahmat Gul, que trabalhava (à época da reportagem) numa padaria em Peshawar, no Paquistão, enquanto a moça (que tinha entre 28 e 30 anos, apesar de não parecer) vivia nas montanhas, para escapar da poluição da cidade, que afetava seus problemas respiratórios. O casal só ficava junto durante o inverno, quando Rahmat não trabalhava.
Hoje, em 2009, não se sabe que destino Sharbat levou. Graças a uma série de fatores, desde o isolamento geográfico de seu vilarejo, até mesmo às questões culturais do Afeganistão, fica muito difícil de se determinar o destino daquela menina de olhos verdes e de sua família.
Muitas coisas na foto chamam muito a atenção. Primeiro, a beleza da menina, apesar de toda adversidade. Na minha humilde opinião, é muito mais bonita que muita top model por aí. Mas, claro, o maior ponto de atenção nessa fotografia é, sem dúvida nenhuma, o olhar penetrante de seus olhos verdes. A capacidade de transmitir uma série de emoções através de um simples olhar de uma menina refugiada foi muito bem captada pela lente de McCurry.
Lucas C. Silva