Por Roberto Drummond.
Aline tinha 12 anos e queria falar com Deus. Todos a conheciam como a menina do arranha-céu, pois Aline morava num edifício tão alto, debruçado sobre uma favela, que tinham a impressão de que, se ficasse na ponta dos pés, podia estender a mão e colher uma estrela para transformá-la num broche. Aline era uma menina cheia de vaidade, usava piercing no nariz, maquiava o rosto, e não queria saber de namorados da mesma idade. Nas noites de lua, Aline tentava falar com Deus e gritava no alto da cobertura onde morava:
- Você está me ouvindo, Deus? Me arranja um namorado bonito como o galã da novela das oito!
- Jesus, Maria José - ralhava a empregada Lulude, que veio do interior de Minas - Isto são modos de se falar com Deus, Aline?
- Deixa de ser tonta, Lulude - dizia Aline. - Deus é da minha tribo, sua boba.
- Vou contar pra sua mãe, Aline - ameaçava Lulube. - que você está chamando Deus de índio.
Aline tinha uma luneta com a qual esperava ver Deus. Aline olhou a favela fizinha do arranha-céu com a luneta e viu, na porta de um barraco, uma menina de sua idade.
Aline tinha 12 anos e queria falar com Deus. Todos a conheciam como a menina do arranha-céu, pois Aline morava num edifício tão alto, debruçado sobre uma favela, que tinham a impressão de que, se ficasse na ponta dos pés, podia estender a mão e colher uma estrela para transformá-la num broche. Aline era uma menina cheia de vaidade, usava piercing no nariz, maquiava o rosto, e não queria saber de namorados da mesma idade. Nas noites de lua, Aline tentava falar com Deus e gritava no alto da cobertura onde morava:
- Você está me ouvindo, Deus? Me arranja um namorado bonito como o galã da novela das oito!
- Jesus, Maria José - ralhava a empregada Lulude, que veio do interior de Minas - Isto são modos de se falar com Deus, Aline?
- Deixa de ser tonta, Lulude - dizia Aline. - Deus é da minha tribo, sua boba.
- Vou contar pra sua mãe, Aline - ameaçava Lulube. - que você está chamando Deus de índio.
Aline tinha uma luneta com a qual esperava ver Deus. Aline olhou a favela fizinha do arranha-céu com a luneta e viu, na porta de um barraco, uma menina de sua idade.