Após algumas postagens, a Tássia Veríssimo volta ao Meus Pensamentos, dessa vez com um conto. Nossa amiga, que tem sobrenome e talento de escritor está concorrendo no prêmio Eu Amo Escrever, da loja Cantão. Os vencedores terão seus textos publicados.
Leiam o texto com carinho e, se curtirem, CLIQUE AQUI para votar na Tássia! É só clicar no 5° coraçãozinho! Deem essa força, pessoal!
Antônia, a rua e o conto
Por Tássia Veríssimo
Subindo a rua que dava para seu apartamento na zona norte do Rio de Janeiro Antônia ia pensando sobre a ideia antiga, e sempre empurrada com abarriga, de voltar a escrever. Voltar era modo de dizer, afinal nunca escreveunada que achasse que valia a pena. Fez uns livrinhos de papel grampeadoquando criança e na adolescência escreveu uma aventura infantojuvenil que sepretendia ser ao estilo Pedro Bandeira, mas que teve como único leitor seu pai.A timidez não permitiu que deixasse mais ninguém ler. O arquivo foi perdidona troca de computador na qual não foi feito back up do texto, o pai acabouperdendo o original em meio a sua papelada e assim morreu a carreira quenunca nasceu de Antônia.
Pensava que de desse modo havia sido toda sua vida, um amontoado de planos inacabados e histórias por contar. O balé que ficou pelo meio, a natação que nunca a conseguir fazer aprender a nadar, as aulas de piano esquecidas na poeira do tempo. Uma sucessão de quases e de projetos que não deram em nada.
Vinte e três anos, recém fornada em comunicação, logo ela que tem vergonha até de fazer um telefonema!, tentando um mestrado para falar sobre sei lá o que. Por um tempo pensou que a carreira acadêmica era para ela, mas será que tem talento para dar aulas? Será que quer dar aulas?
O que Antônia quer? Pensava consigo mesma se referindo a ela própria à moda Pelé, em terceira pessoa. Ia tão absorta em seus pensamentos que tropeçou em uma pedra. Não caiu, mas cambaleou. Pensou que toda vida fora assim. Tropeços por sonhar acordada, por viver em um mundo à parte, onde imaginação e realidade muitas vezes se confundiram.
Tantos sonhos! Acreditou por muito tempo que conseguiria abarcar o mundo com os pés. Ser escritora, ter uma livraria pequena e aconchegante, onde crianças fizessem roda para ouvir contadores de história e onde adultos se sentissem à vontade para tomar um café e folhear os livros. Ter sua própria marca de roupas, poder criar modelos, adorava moda, sempre gostou. Escrever livros de sucesso, romances. Viajar o mundo!
Sonhos excludentes? Achava que não. Qual o mal de alguém que goste de literatura também ser apaixonado por moda? Não entendia porque Chanel e Dostoievisk não podiam andar juntos em seus planos.
Acabou em comunicação, que não era nem moda, nem letras. Mas comunicar não fazia muito bem. Seguia a vida, emprego médio, mas agradecia por ter algo com o que pagar a sua metade nas contas do apartamento dividido com outras duas colegas. Fazia cursinho para tentar um emprego público, estabilidade não iria mal, achava que já estava velha para viver com a cabeça nas nuvens. Namorava um cara legal. Escrever ia ficando cada vez mais distante. A vida cada vez mais monótona.
Ficou sabendo de um concurso cultural para contos, focado em jovens autores, com bom prêmio e chance de publicação. Era nisso que pensava ao subir a rua. Uma chance de escrever, quem sabe ser publicada, talvez uma oportunidade de sair da inércia na qual sua vida havia se transformado.
Nesse momento, ao cruzar a portaria percebeu que a menina que desenhava e escrevia livros em papel ofício, com páginas grampeadas e vendia para a família ressurgiu. Seus os olhos castanhos brilharam. Chegou ao apartamento. Décimo oitavo andar. Ligou o computador. Tela em branco. A vida em branco. Teve então a certeza que todos os sonhos do mundo caberiam ali. Se sentiu feliz como há muito tempo não se lembrava de ser.
Por Tássia Veríssimo
Subindo a rua que dava para seu apartamento na zona norte do Rio de Janeiro Antônia ia pensando sobre a ideia antiga, e sempre empurrada com abarriga, de voltar a escrever. Voltar era modo de dizer, afinal nunca escreveunada que achasse que valia a pena. Fez uns livrinhos de papel grampeadoquando criança e na adolescência escreveu uma aventura infantojuvenil que sepretendia ser ao estilo Pedro Bandeira, mas que teve como único leitor seu pai.A timidez não permitiu que deixasse mais ninguém ler. O arquivo foi perdidona troca de computador na qual não foi feito back up do texto, o pai acabouperdendo o original em meio a sua papelada e assim morreu a carreira quenunca nasceu de Antônia.
Pensava que de desse modo havia sido toda sua vida, um amontoado de planos inacabados e histórias por contar. O balé que ficou pelo meio, a natação que nunca a conseguir fazer aprender a nadar, as aulas de piano esquecidas na poeira do tempo. Uma sucessão de quases e de projetos que não deram em nada.
Vinte e três anos, recém fornada em comunicação, logo ela que tem vergonha até de fazer um telefonema!, tentando um mestrado para falar sobre sei lá o que. Por um tempo pensou que a carreira acadêmica era para ela, mas será que tem talento para dar aulas? Será que quer dar aulas?
O que Antônia quer? Pensava consigo mesma se referindo a ela própria à moda Pelé, em terceira pessoa. Ia tão absorta em seus pensamentos que tropeçou em uma pedra. Não caiu, mas cambaleou. Pensou que toda vida fora assim. Tropeços por sonhar acordada, por viver em um mundo à parte, onde imaginação e realidade muitas vezes se confundiram.
Tantos sonhos! Acreditou por muito tempo que conseguiria abarcar o mundo com os pés. Ser escritora, ter uma livraria pequena e aconchegante, onde crianças fizessem roda para ouvir contadores de história e onde adultos se sentissem à vontade para tomar um café e folhear os livros. Ter sua própria marca de roupas, poder criar modelos, adorava moda, sempre gostou. Escrever livros de sucesso, romances. Viajar o mundo!
Sonhos excludentes? Achava que não. Qual o mal de alguém que goste de literatura também ser apaixonado por moda? Não entendia porque Chanel e Dostoievisk não podiam andar juntos em seus planos.
Acabou em comunicação, que não era nem moda, nem letras. Mas comunicar não fazia muito bem. Seguia a vida, emprego médio, mas agradecia por ter algo com o que pagar a sua metade nas contas do apartamento dividido com outras duas colegas. Fazia cursinho para tentar um emprego público, estabilidade não iria mal, achava que já estava velha para viver com a cabeça nas nuvens. Namorava um cara legal. Escrever ia ficando cada vez mais distante. A vida cada vez mais monótona.
Ficou sabendo de um concurso cultural para contos, focado em jovens autores, com bom prêmio e chance de publicação. Era nisso que pensava ao subir a rua. Uma chance de escrever, quem sabe ser publicada, talvez uma oportunidade de sair da inércia na qual sua vida havia se transformado.
Nesse momento, ao cruzar a portaria percebeu que a menina que desenhava e escrevia livros em papel ofício, com páginas grampeadas e vendia para a família ressurgiu. Seus os olhos castanhos brilharam. Chegou ao apartamento. Décimo oitavo andar. Ligou o computador. Tela em branco. A vida em branco. Teve então a certeza que todos os sonhos do mundo caberiam ali. Se sentiu feliz como há muito tempo não se lembrava de ser.
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