sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Ferromodelismo 101: comprando e pintando o primeiro trem

Meu primeiro trem já envelhecido! (foto: Lucas Conrado)

Estou viciado em ferromodelismo! Na verdade, sempre gostei de modelos de trens. Com um dinheiro que ganhei de aniversário, comprei o meu primeiro modelo de trem e me apaixonei. Depois de ter comprado umas tintas e pintado os modelos, aí que me apaixonei de verdade! Vou contar aqui os primeiros passos nesse novo hobby, incluindo o que aprendi e os erros que cometi.

A primeira locomotiva

A G22CU da RFFSA, empresa que meu vô trabalhou. O DC-10 da Varig, empresa que meu pai trabalhou. Sou a terceira geração da família a trabalhar em empresa de transportes.

Como falei, sempre fui apaixonado por trens, apesar de não entender (quase) nada sobre eles. Eu só sei que queria uma locomotiva da Rede Ferroviária Federal, já que é a empresa onde meu avô paterno trabalhou. Além disso, cresci vendo as locomotivas vermelhas e amarelas cruzarem Carmo do Cajuru (MG). A princípio, eu ia pegar a ALCO FA-1 (mais conhecida como Biriba), que tem aquele desenho aerodinâmico bonitaço, bem parecido com o das EMC da série E que sempre achei lindas. Mas, na minha procura, acabei pegando uma EMD G22CU da Frateschi, que tava com um bom preço no Mercado Livre. Peguei essa locomotiva porque ela parecia mais com as que eu via em Cajuru quando era criança. Queria um dos modelos que cresci vendo. Mas aí, eu cometi 2 erros. 

O primeiro foi comprar pelo Mercado Livre. Até porque eu comprei na Minimundi, uma loja de miniaturas de Belo Horizonte, relativamente perto de casa. Se eu tivesse comprado direto no site deles, teria pago uns 20 reais mais barato na locomotiva, já que o Mercado Livre morde uma taxa. E o segundo modelo foi na escolha da locomotiva. Apesar de ser linda, a G22CU não rodava em Minas Gerais. Pelo que andei lendo em blogs, ela foi importada da Espanha direto para o Sul do Brasil, onde roda até hoje nas cores da América Latina Logística (ALL), agora comprada pela Rumo.

A ideia era colecionar locomotivas, mas a chegada dos vagões me fez mudar de ideia e querer ter uma maquete de ferrovia em casa.

O primeiro vagão e trilhos

A locomotiva, o vagão de minério e os primeiros trilhos.

Uma coisa me incomodava no meu modelo: o trem solto, sem o trilho. Ainda com o dinheirinho do aniversário na conta, e vendo que cada trilho custava uns 5,60, decidi comprar o trilho para a locomotiva repousar. Mas ainda tava com uma graninha do aniversário e acabei levando dois trilhos mais o meu primeiro vagão: uma gôndola de minério. Dessa vez, o primeiro acerto, comprei direto no site da Minimundi e coloquei para buscar na loja. O Mercado Livre não ia morder nada. Chegando lá, o cara da loja me falou um negócio que eu deveria ter levado em conta. Ao invés de pegar os trilhos, locomotiva e vagões avulsos, eu deveria ter comprado o kit Meu Primeiro Trem Elétrico, da Frateschi. Acabaria gastando menos e teria um circuitinho básico pra poder brincar com a locomotiva.

Por que não peguei o kit a princípio? Porque eu não queria um circuito. Queria é colecionar locomotivas, da mesma forma que coleciono aviões. O problema é que o bichinho do ferromodelismo já tinha me picado e eu já estava viciado em vídeos de maquetes no YouTube. Mas era tarde demais, a locomotiva já estava comprada. Assim como o primeiro vagão.

O trilho original da Frateschi é com os dormentes pretos. Pintei de marrom para ficar com uma carinha mais real.

Enfim, foi nesse dia que comecei a personalizar o meu modelo. Ainda não tinha confiança para pintar os trens, então fui pintar os trilhos. Os mais especialistas mandam a gente usar o aerógrafo, mas ele é caro e não tenho condições de comprar agora. Acabei pintando com pincel e tinta acrílica mesmo e o resultado não ficou dos piores. Demorou demais, mas deu certinho. Ficou legal no fim das contas.

Salto de fé: bora envelhecer os trens!

Estava bem feliz com meu trenzinho, mas faltava alguma coisa nele...

Eu tava bem feliz com o meu trem, mas tava faltando alguma coisa nele. Eu sabia o que era, mas tava sem saber se teria coragem de fazer o que precisava. Nos vídeos do YouTube e contas de ferromodelismo no Instagram, as locomotivas estavam sujas e envelhecidas como as reais. Olhava pro meu trem e ele não estava com aquela cara de trem real. Comecei a olhar técnicas de envelhecimento e a maioria envolvia o uso do aerógrafo, que eu não tenho. Mas aí, achei um vídeo com uma técnica que usa pincel e tinta acrílica fosca. Tomei coragem. Fui testar no vagão.

Comecei pintando a parte de dentro do vagão. Se não desse certo, pelo menos o estrago não seria tão grande (e seria mais fácil limpar). Hm, começou dando certo e ficando com o resultado melhor que eu esperava. Na verdade, ficou MUITO melhor do que eu pensei que conseguiria fazer. Ainda peguei a minha caneta de escrever em CD e fiz umas pichações no vagão. Modéstia à parte, mandei bem. A pintura ficou bem legal, ainda mais considerando que sou novato na área. Joguei um pouco de tinta marrom e laranja em algumas bordas para simular poeira e ferrugem e gostei bastante do resultado. Com confiança, fui pintar a locomotiva.

Como era o vagão e como ele ficou depois da pintura e da pichação

Já sabendo como pintar, comecei a fazer as manchas na locomotiva. Peguei referências de outros ferromodelistas, além de raríssimas imagens das G22CU da Rede Ferroviária na internet. Na verdade, peguei referências de imagens de muitas locomotivas. Enfim, pintei usando a mesma técnica do vagão, que é a do pincel seco. Eu molho o pincel na tinta, tiro quase todo excesso numa folha de papel e vou pintando só os restinhos de tinta no trem. Por isso que a mancha não fica muito borrada tipo tinta guaxe, sabe?

A primeira pintura da minha locomotiva e do vagão de minério

Enfim, terminei a primeira pintura da locomotiva e postei nos grupos de ferromodelismo no Facebook. O pessoal elogiou bastante, mas algumas pessoas disseram que a pintura da minha locomotiva não estava muito realista. Faltou uns escorrimentos de óleo e água de chuva em partes específicas da locomotiva. Eu tenho um problema muito sério: eu sou inseguro muito chato e detalhista com o meu trabalho (pergunta pro Lito, do Aviões e Músicas). Fui dormir com aquilo na cabeça e, no dia seguinte, fui repintar a locomotiva.

Tirei um pouco da sujeira do teto dela e fiz o escorrimento próximo aos tubos do escapamento. Também dei uma repintada nas escadas e no limpa trilhos, pra deixar mais marcas de poeira. Enfim, foi uma bela retocada e o trem ficou ainda mais legal (pelo menos pra mim!). Mas, como minha namorada me disse, é bom eu parar de mexer nele. Senão posso ficar botando detalhe até estragar o negócio. Ou melhor, o trem.

Além de refazer as manchas da locomotiva, ainda fiz a pintura dos faróis frontais e da buzina.

Do lixo ao luxo

Enquanto eu preparava as tintas para fazer a ferrugem e os metais das locomotivas, comecei a pensar no que o vagão gôndola iria levar. Um amigo até sugeriu virar café nela para parecer minério de ferro, mas o café tá caro, se bobear mais caro do que o próprio minério. Ainda não dá. Pensei, então, em fazer uma carga de sucata, inspirado em um vídeo que vi no YouTube. Usei uma antiga caixa de DVD para cortar as chapas e fui pintando de cinza e dos tons de marrom e laranja para fazer as chapas de metal velho.

Quer transformar uma antiga caixa de DVD em chapas de metal? Pergunte-me como!

Mas eu não tava com saco para encher o vagão inteiro. Queria fazer uma cobertura falsa. Como? Então, eu percebi que a caixa de palitos de dentes tinha o tamanho exato para entrar no vagão. Aí que entrou em ação a criatividade. Medi a caixa, fiz os cortes e colagens e voilá! Eu tinha um suporte para a carga do vagão! Além dos retalhos da caixa do DVD, ainda usei um mastro de plástico de bandeira para fazer tubos, pedaços de anel de latinha e até uns clipes de papel e arames enferrujados que catei na rua. E eu estava tão empolgado que acabei fazendo logo duas cargas de sucata para vagões, apesar de só ter um. Mas isso se resolveria nos dias seguintes.

Caixa de palito de dente encaixa direitinho no vagão gôndola da Frateschi! Parece que foi planejado!

Os últimos vagões

Eu tinha duas cargas de sucata e apenas um vagão gôndola. Queria uma segunda gôndola. E também estava namorando um vagão tanque. Enfim, juntei uns trocadinho do aniversário, com outros trocadinho que entraram aí ao longo do mês e voltei lá na Minimundi pra comprar mais dois trilhos e os outros vagões. Ah, e um detalhe que eu ainda não tinha falado. Se você cria a conta e faz compras online na Minimundi, você ganha descontos nas próximas compras. E, se você avalia os seus produtos e o atendimento, ganha ainda mais desconto. Tô é juntando esses descontos para fazer compras maiores no futuro!

Será que o Malvadão sujou a roupa de poeira vermelha quando pichou o trem?

Voltei pra casa com os novos trilhos e vagões. Particularmente, eu tinha gostado bastante da pintura que fiz na primeira gôndola. Mas confesso que achei ela muito suja e escura, especialmente quando a coloco no rack da sala (que é de madeira escura). Para o segundo vagão, decidi fazer uma pintura menos carregada no envelhecimento e com marcas de poeira de minério. De novo, modéstia à parte, achei que o resultado ficou tão legal que eu até tava com medo de pegar o trem e me sujar com aquela terra vermelha que praticamente tinge sua roupa (se você é de Minas, sabe do que eu to falando).


Pro vagão tanque, fui atrás de referências na internet, inclusive de vídeos que fiz de vagões rodando. Como falei, eu gostei do resultado dos primeiros vagões, mas queria pegar mais leve na sujeira e desgaste dos novos. Decidi fazer a parte de cima do trem enferrujada e com um pouco de ferrugem nas emendas. A base do trem estaria marcada de terra, enquanto o local próximo da entrada e saída do combustível teria as marcas do escorrimento do óleo (como você pode ver no vídeo acima). De novo, gostei do resultado. Um amigo meu, que faz pintura de miniaturas há muitos anos, também elogiou a ferrugem. Bom sinal.

Marcas de ferrugem, poeira e óleo no trem. Tudo baseado em fotos de trens reais.

E assim termina a minha primeira experiência com ferromodelismo. Agora, quero esperar surgir um novo emprego com salário legal para me dedicar mais ao novo hobby. Finalmente, vou comprar o kit Meu Primeiro Trem Elétrico e depois vou pegar as expansões. Vamos ver onde essa brincadeira vai parar!

Enquanto não chega a caixa básica, o trem fica em exposição no rack da sala!


Nenhum comentário: