terça-feira, 27 de junho de 2023

No Aeroporto

Isso aconteceu no Aeroporto de Congonhas, em alguma noite fria no fim de maio.

Avião parado na remota, no aeroporto de Congonhas (foto: Lucas Conrado)

Depois de ter voado alguns dias, chegou a tão esperada folga. Eu ia passar uns 3 dias em casa, para comemorar o aniversário da minha mãe. Uma das vantagens de ser comissário de voo é poder pegar carona para casa, desde que houvesse vaga no voo. E, para saber se há vaga no voo, a gente costuma esperar o fim do embarque

Pois bem. O voo para Confins ia sair da remota, isso é, o avião não estava parado no portão. A gente precisaria pegar um ônibus até o pátio do aeroporto. No entanto, como era fim de embarque, não tinha gente suficiente para mandarem o ônibus. Dessa forma, enviaram uma van, onde entraram uns cinco passageiros. Além de mim, estava na van um comissário novato da empresa, alguns passageiros aleatórios e uma mulher em específico.

Essa mulher era branca, magra, um pouco mais baixa que eu. Tinha cabelos curtos e pretos. Ela deixou a mala no bagageiro e se sentou na primeira fileira da van. O comissário novato se sentou ao lado dela. Por fim, me sentei ao lado do comissário, que não estava uniformizado. Inclusive, estranhei ele se sentar ao lado daquela mulher. Vocês vão saber por quê.

O garoto era bem mais novo que eu e estava, ao mesmo tempo, empolgado e preocupado com a nova empresa. Tinha tido um problema no check-in e estava com receio de ser reportado pelo pessoal de solo. Assim, eu tentava tranquilizá-lo, dizendo que ele não tinha feito nada de errado. Então, ele se virou para a mulher e perguntou de forma amigável:

- Oi, você também mora em BH?

Ela respondeu de forma simpática:

- Moro sim. Tô voltando pra casa.

Aproveitei para falar com ela (queria falar com ela desde que a vi na van)

- Oi, Fernanda, prazer. Sou muito fã do seu trabalho.

O comissário me viu estender a mão para ela e perguntou confuso:

- Como você sabe o nome dela?

- Fernanda Takai, vocalista do Pato Fu - respondi calmamente.

O comissário fez cara de paisagem e a Fernanda respondeu:

- Relaxa, ele é novinho, não conhece a gente.

Continuamos conversando. Falei com a Fernanda sobre um show do Pato Fu que assisti no SESC Itaquera ali no começo dos anos 2000. O comissário novinho ainda não sabia quem ela era. Vida que segue. Aí, o garoto se virou para mim e disse:

- Deixa eu te falar, eu to indo pro centro de Belo Horizonte e o taxi do aeroporto é bem caro. Você não quer dividir comigo?

- Cara, eu até dividiria. O problema é que eu moro em Vespasiano, se a gente for rachar a conta do taxi, vai ficar muito caro pra mim. É perto do aeroporto.

E foi nesse momento que eu percebi que eu estava velho. Ele se virou para a Fernanda Takai e perguntou:

- Você mora onde?

- Na Pampulha - ela respondeu.

Ele não vai fazer isso, eu pensei. O novinho continuou:

- Eu moro no centro de Belo Horizonte e vou pegar um taxi. Você mora na Pampulha, é caminho, você não quer dividir o taxi comigo?

Naquela hora, eu não sabia o que fazer. Não sabia se ria, se cutucava ele, se pedia pro motorista da van parar no meio do aeroporto... não sabia o que fazer. Simpática, a Fernanda Takai disse que o carro dela tava no aeroporto, algo assim. Pro meu alívio, ele não pediu uma carona, sei lá, até a Estação Pampulha.

Minutos depois, a van estacionou próxima ao aeroporto. Assim como os outros passageiros, a Fernanda pegou a mala e subiu logo pro avião. Quando descemos da van, virei pro novinho e falei:

- Chega aqui, por favor.

Ele veio caminhando e eu comentei:

- Cara, como te falei, a Fernanda Takai é vocalista do Pato Fu, provavelmente umas das 3 maiores bandas da história da música mineira. Eles gravaram dezenas de discos. Já fizeram música de abertura de novela. Já ganharam vários prêmios. Até onde sei, eles já tocaram no Rock in Rio (eles tocaram, sim, como você, leitor, pode ver aqui)...

O garoto foi arregalando cada vez mais os olhos e, no fim, emendou:

- E eu ofereci dividir um taxi com ela.

- Ofereceu - respondi, segurando o riso.

E assim, fui voando de São Paulo a Belo Horizonte rindo, ao lembrar do garoto que ofereceu dividir um taxi com a Fernanda Takai.



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