Eu sempre falo o seguinte. O mundo quer nos matar desde o momento em que a gente nasce. Dessa forma, amor, no sentido amplo da palavra, é quando uma pessoa te estende a mão e te pergunta "vamos sobreviver juntos?". Ontem à noite, fui ver o filme Marte Um. Hoje, consegui digeri-lo. E Marte Um é sobre isso, é sobre amor, no sentido mais puro e amplo da palavra.
Marte Um conta a história de uma família típica das periferias brasileiras. É uma família tão típica que os personagens não têm nem sobrenome. Eles vivem na periferia de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. E acho que isso reforça ainda mais essa sensação de que poderia estar em qualquer lugar do Brasil. A mineiridade está lá. Está no "sô" que sai de forma natural nas frases (vou voltar a falar disso depois). Está no Atlético x Cruzeiro que a família assiste. Está na garrafa de Guarapan na mesa da festa de aniversário. Mas pelo filme não mostrar algum ponto turístico de Contagem e mostrar só paisagens de Belo Horizonte que só um morador da cidade reconheceria, aumenta a sensação dessa história poder estar acontecendo em qualquer lugar do Brasil.
Mas qual é a história de Marte Um?
O filme acompanha alguns meses de profundas transformações dessa família. Wellington, o pai, é zelador de um prédio de burguês luxo num bairro nobre de Belo Horizonte. O sonho de Wellington é que Deivinho, seu filho mais novo, se torne craque do Cruzeiro. O problema é que Deivinho não quer jogar bola. Nerd, apaixonado por astronomia, o garoto sonha se tornar astrofísico e participar da missão Marte Um, que deve colonizar o planeta a partir de 2030. Mas, onde já se viu, um menino da periferia de Contagem querer trabalhar na NASA? Quem apoia Deivinho? Sua irmã mais velha, Eunice. A universitária começa a namorar uma colega de faculdade e decide sair de casa. Só precisa mostrar aos pais, Wellington e Tércia, que está tudo bem. E Tércia, a mãe da família que, assim como em muitas casas do Brasil, é a âncora da casa, precisando equilibrar os pratos. O problema é que Tércia está a beira de uma crise de pânico. Assim, ela precisa coordenar a casa, ao mesmo tempo que tenta manter o controle sobre os próprios sentimentos.
Como falei no começo do texto, é um filme sobre o amor na forma mais pura da palavra. Como toda família, Tércia, Wellington e seus filhos têm seus conflitos, discussões e discórdia. Mas estão sempre ali, um pelo outro, tentando sobreviver ao mundo cruel (e que se tornaria ainda mais cruel, considerando que o filme se passa na virada de 2018 para 2019, quando um cara aí virou presidente do Brasil). E a história acontece de uma forma bem gostosa e aconchegante, como toda casa mineira que se preza é. Você solta uma risada, daqui a pouco está com a tensão no talo e depois se debulha em lágrimas. Para voltar a rir logo depois. E a última frase do filme, que Wellington solta, arranca lágrimas. De novo, é um filme muito gostoso de se ver. Especialmente se você estiver em família.
Um comentário:
Que texto! E que síntese do filme! Adorei a visão ampla enxerga o amor como laço que mantém a vida humana
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