terça-feira, 15 de novembro de 2022

(Re)pouso

Sexta-feira chuvosa. Aeroporto de Confins, região metropolitana de Belo Horizonte.

No momento em que o Airbus A320 toca a pista do aeroporto, os passageiros soltam suspiros aliviados. Aquele foi um voo bem turbulento, por conta das chuvas que assolam a região Sudeste naquela semana. Lá na última fileira, um passageiro está incomodado com outra coisa. Ele olha o relógio, que marca 21h05. Era para ele ter chegado às 18h35. Ele é um tripulante extra, um comissário de bordo que está pegando uma carona para casa, após uma semana cansativa. Aqueles três dias em casa vão lhe fazer bem.

O comissário se despede dos colegas, que ainda vão voltar para São Paulo e caminha pelo finger até a sala de embarque/desembarque. Pega a mala e vai ao saguão do aeroporto. Não há nenhum rosto conhecido ali. Ninguém da época que ele trabalhou em Confins. Ele caminha até o guichê e compra um bilhete do Conexão Aeroporto.

Entra no ônibus, senta-se la no fundo e fecha os olhos. O comissário está bem cansado. Vários madrugadões naquela semana, vários voos lotados, alguns atrasos, passageiros irritados, crianças desobedientes... Foi uma semana pesada. Aquela folga conjugada viria bem a calhar. No caminho para casa, um acidente na Linha Verde. Engarrafamento, mais atraso. Humor ainda pior.

Após passar pelo acidente, o motorista senta o pé no acelerador. Finalmente uma colaboração. Uns quarenta minutos depois, o ônibus para na rodoviária. Finalmente, estamos chegando!

Ao descer na rodoviária, o comissário come alguma coisa e vai até o ponto dos aplicativos, lá embaixo. Ele gosta de conversar com os motoristas, mas, naquele dia, ele só fecha os olhos. Já não bastasse o atraso - são quase 23 horas - e o cansaço, a cabeça começa a doer. Merda!

O carro para na frente do edifício ali na rua Claudio Manoel. O comissário paga, sai do Uber e entra no prédio. Aperta o botão 3 no elevador e entra no apartamento 302.

A sala está com o brilho azulado da TV ligada. Na tela, um filme na Netflix. Deitada no sofá, a noiva acorda assustada e fala preguiçosamente:

- Amor, cê demorou tanto hoje...

- Desculpa, meu bem... - ele responde sem graça - o voo atrasou bastante.

- Tá... Quer comer alguma coisa? - ela começa a se levantar.

- Não, não, mozão, obrigado. - ele responde, se agachando ao lado do sofá e beijando a noiva - Pode ficar deitadinha aí, já comi no caminho...

- Tem certeza? Então deita aqui comigo. Tá friozinho.

- Ô amor, deixa eu só tomar uma ducha rápida ali.

- Não. Depois cê toma a ducha. Deita aqui comigo, to com saudade.

Ele olha para a noiva, estranhando. Ela o chamando para deitar antes de tomar banho? Dá de ombros e, largando o paletó no chão da sala, deita no abraço dela. Ele fecha os olhos, sentindo aquele abraço quentinho e relaxa. Agora está tudo bem.

Dando um beijinho no braço da noiva, ele pergunta:

- Eu já te disse que te amo?

Nenhum comentário: