quarta-feira, 30 de novembro de 2022

33 anos, mapa e luzinha


Aí que ela me mandou a seguinte mensagem: "criei um mapa pra gente colocar os lugares que queremos ir e onde já fomos". A princípio, a ideia me pareceu super legal. A menina com quem estou saindo está disposta mesmo a construir uma coisa comigo. Tanto que ela quer viajar por aí conhecendo lugares comigo. Legal.

Empolgado, comecei a marcar pontinhos no mapa. Primeiro, na cidade onde considero que nasci, Carmo do Cajuru. Depois, na cidade que eu efetivamente nasci, Divinópolis. Então, na minha cidade favorita do mundo, Belo Horizonte. Por falar em cidades favoritas, também fiz um roteirinho por Santiago do Chile. Fui marcando pontos e pontos e pontos e cada vez mais distantes e aí bateu o desespero: será que vamos conseguir visitar todos os lugares?

Acho que o desespero do mapa é, na verdade, uma metáfora para o desespero da vida. Tenho 33 anos. Solteiro, sem filhos, morando de aluguel e precisando de ajuda para pagar as contas mais básicas. Sou formado em Jornalismo, por uma universidade federal. Mas, ao contrário do que meus professores prometiam na escola, isso não me garantiu nenhum emprego. Sei filmar, fotografar, editar vídeos e podcasts. Sei escrever para blogs, sites, revistas e até livros. Já escrevi três livros. E, depois de me inscrever em umas 40 vagas na área de comunicação e não ser chamado para nenhuma, tive certeza que LinkedIn, Vagas e Gupy só servem para RH fingir que trabalha e mostrar serviço para a gerência das empresas.

Da área de comunicação, é claro.

Ter 33 anos e estar desempregado, solteiro, sem filhos e sem perspectiva é meio desesperador, sabe? Ainda mais quando você se compara a quem está ao seu redor e você percebe quão pra trás você está. Aos 33 anos, seu pai tinha 2 filhos, casa própria, carro, dava conforto pra família. Aos 31, seu irmão tem um cargo alto numa grande fundação brasileira, carro, tá praticamente casado. Parece estar bem. E você tá aí, escrevendo num blog que ninguém lê, já que ninguém te contrata para escrever a troca de dinheiro.

E assim eu vivia, que nem aquele astronauta do filme Perdido em Marte. Só faltava eu usar meu escritório, que agora tá abandonado, já que não estou trabalhando nem em casa, para plantar batatas. E, do jeito que comer tá cada vez mais caro no Brasil de Paulo Guedes, plantar batatas num quarto largado de um apartamento não parece uma ideia tão ruim.

Mas aí que surgiu uma luzinha no fim do túnel. Ou no céu de Marte, talvez. Uma luzinha de sotaque mineiro, cabelos cacheados, carinha de nerdola e de óculos, do jeitinho que eu sempre gostei em segredo (ou não). E, apesar de ainda estar com 33 anos, desempregado, solteiro, sem filhos nem perspectiva, as coisas deram uma melhorada. E as coisas melhoraram cada vez mais quando, contra todas as possibilidades, a luzinha de sotaque mineiro, cabelos cacheados, carinha de nerdola e óculos parece gostar de mim de volta. Tanto que ela fez o mapinha pra gente marcar onde a gente quer ir um dia.

Mas aí que bate o medo de novo. É fácil ir nos lugares aqui perto de Belo Horizonte, Vespasiano, Contagem, Betim e até mesmo Lagoa Santa. É fácil dar um pulo ali em Divinópolis e Carmo do Cajuru. Mas e Santiago do Chile? E a Praia Maho? E Toulouse? Será que a gente vai conseguir ir lá um dia? Será que eu vou conseguir contribuir para ir pra esses lugares um dia?

Na verdade, a minha preocupação não é nem tanto com a viagem para Toulouse ou para a Praia Maho, apesar de eu querer muito ir nesses lugares. O meu medo de verdade é não conseguir contribuir para uma vida tranquila e confortável para minha futura esposa (espero que seja a luzinha de cabelos cacheados, carinha de nerdola e tudo mais que falei ali em cima) e para eventuais filhos. É não conseguir um emprego legal e que me dê um mínimo de estabilidade financeira e alegria. É ter de devolver o meu apartamento alugado e, tal qual Luke Skywalker no começo de Uma Nova Esperança, ter que ir para o meio do nada, longe dos sonhos e do que quer. 

É como se a vida fosse o mapa que a luzinha de cabelos cacheados e tudo mais, os sonhos fossem os pins que colocamos e a realidade... bem a realidade ser a mesma falta de grana da vida real e do nosso mapinha.

Espero que esses medos sejam injustificados.

E que eu esteja lendo esse texto um dia com a luzinha dos cabelos cacheados em Toulouse.

Tomara.

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