quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

... mais oito anos

29 de fevereiro de 2024.

Eu nem lembrava, mas em 29 de fevereiro de 2008, eu escrevi como estava a minha vida. Em 29 de fevereiro de 2012, dei uma atualizada. Em 2016 também. Em 2020, me esqueci e estou aqui em 29 de fevereiro de 2024.

Onde estou agora? No hospital. Estou bem, eu acho, com dores nas costas e nos ombros, mas to bem. O hospital fez um monte de cagada com a marcação do meu exame. Era pra ter sido 20 dias atrás. Não foi... enfim...

Passei o olho pelos posts anteriores. Em um deles, eu sonhava ser jornalista em Belo Horizonte. Em outro, eu tinha largado a profissão e tinha acabado de fazer a banca da ANAC para ser comissário de voo. Hoje, eu sou comissário de voo.

Estou prestes a completar um ano na nova companhia aérea. Trabalhei em outra, anos atrás, que faliu. Apesar dos perrengues desde 2019, estou aí, firme e forte. Não moro em Belo Horizonte, como eu queria. Mas moro do lado, em Vespasiano. Um apartamento alugado desde 2017. Tenho uma coleção de videogames na sala, como eu queria. Estou montando uma maquete de ferromodelismo, como eu queria desde criança.

Na sala ao lado ali, minha namorada me espera. Carinha de nerd, óculos, cabelos cacheados, mineira... definitivamente, a menina que eu sonhava quando tinha 19 anos e escrevi o primeiro texto.

Mudei muito desde então. Realizei muita coisa. Ainda tenho mais o que realizar. Ser comissário de voo instrutor, comprar meu carro (um HB20?), me casar com a mineira de cabelos cacheados da sala ao lado... vamos ver o que vai acontecer até 29 de fevereiro de 2028.

terça-feira, 27 de junho de 2023

No Aeroporto

Isso aconteceu no Aeroporto de Congonhas, em alguma noite fria no fim de maio.

Avião parado na remota, no aeroporto de Congonhas (foto: Lucas Conrado)

Depois de ter voado alguns dias, chegou a tão esperada folga. Eu ia passar uns 3 dias em casa, para comemorar o aniversário da minha mãe. Uma das vantagens de ser comissário de voo é poder pegar carona para casa, desde que houvesse vaga no voo. E, para saber se há vaga no voo, a gente costuma esperar o fim do embarque

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Ferromodelismo 101: comprando e pintando o primeiro trem

Meu primeiro trem já envelhecido! (foto: Lucas Conrado)

Estou viciado em ferromodelismo! Na verdade, sempre gostei de modelos de trens. Com um dinheiro que ganhei de aniversário, comprei o meu primeiro modelo de trem e me apaixonei. Depois de ter comprado umas tintas e pintado os modelos, aí que me apaixonei de verdade! Vou contar aqui os primeiros passos nesse novo hobby, incluindo o que aprendi e os erros que cometi.

sábado, 28 de janeiro de 2023

Por que a desregulamentação do trabalho ferra com o cliente?

Se minha compra vem com a Loggi, já sei que ela não vem. A uberização do trabalho prejudica o trabalhador e o consumidor. (Divulgação/Loggi)

Nos últimos anos, os governos federais vêm delapidando as leis trabalhistas, piorando ainda mais a vida do trabalhador. A pejotização do trabalho, a uberização do trabalho, privatizações desnecessárias, tudo isso tem uma carinha de coisa boa, mas, no fim das contas, só prejudica não só o trabalhador, mas também o consumidor. Especialmente se esse consumidor vive fora do centro das cidades, como é o meu caso.

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

33 anos, mapa e luzinha


Aí que ela me mandou a seguinte mensagem: "criei um mapa pra gente colocar os lugares que queremos ir e onde já fomos". A princípio, a ideia me pareceu super legal. A menina com quem estou saindo está disposta mesmo a construir uma coisa comigo. Tanto que ela quer viajar por aí conhecendo lugares comigo. Legal.

Empolgado, comecei a marcar pontinhos no mapa. Primeiro, na cidade onde considero que nasci, Carmo do Cajuru. Depois, na cidade que eu efetivamente nasci, Divinópolis. Então, na minha cidade favorita do mundo, Belo Horizonte. Por falar em cidades favoritas, também fiz um roteirinho por Santiago do Chile. Fui marcando pontos e pontos e pontos e cada vez mais distantes e aí bateu o desespero: será que vamos conseguir visitar todos os lugares?

terça-feira, 15 de novembro de 2022

(Re)pouso

Sexta-feira chuvosa. Aeroporto de Confins, região metropolitana de Belo Horizonte.

No momento em que o Airbus A320 toca a pista do aeroporto, os passageiros soltam suspiros aliviados. Aquele foi um voo bem turbulento, por conta das chuvas que assolam a região Sudeste naquela semana. Lá na última fileira, um passageiro está incomodado com outra coisa. Ele olha o relógio, que marca 21h05. Era para ele ter chegado às 18h35. Ele é um tripulante extra, um comissário de bordo que está pegando uma carona para casa, após uma semana cansativa. Aqueles três dias em casa vão lhe fazer bem.

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor... 12 anos depois

A parte boa de viver no mundo acabando é saber que ainda existe quem se importa

12 anos atrás, eu escrevi um texto aqui no blog, chamado Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor. Confesso, eu não me lembrava desse texto. Tive até que relê-lo, para entender melhor. Bem, senta aqui do meu lado, Lucas de 21 anos de idade. Deixa eu te falar umas coisas.

domingo, 13 de novembro de 2022

Vamo, uai!

A foto foi cuidadosamente escolhida (foto: Lucas Conrado)

Vespasiano, Contagem, Belo Horizonte. Juatuba, Carmo do Cajuru, Divinópolis. Itapecerica, Oliveira, Carmo da Mata e Cláudio. Carmópolis de Minas. Capitólio, São Roque de Minas e Guapé. Poços de Caldas e Varginha. São João del Rei, Tiradentes, Congonhas do Campo, Ouro Preto e Mariana. Serra da Canastra, Serra do Espinhaço, Serra do Cipó e Serra do Curral. Catas Altas da Noruega. Conceição do Mato Dentro e Diamantina. 

sábado, 12 de novembro de 2022

Marte Um - Um filme sobre amor


Eu sempre falo o seguinte. O mundo quer nos matar desde o momento em que a gente nasce. Dessa forma, amor, no sentido amplo da palavra, é quando uma pessoa te estende a mão e te pergunta "vamos sobreviver juntos?". Ontem à noite, fui ver o filme Marte Um. Hoje, consegui digeri-lo. E Marte Um é sobre isso, é sobre amor, no sentido mais puro e amplo da palavra.

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Standby



Quero pegar o avião
Mas preciso esperar
E naquela seleção
Preciso esperar
Quero dizer que te amo
Ainda preciso esperar
Quero ir ao banheiro
Também preciso esperar

Quero comprar um carro 
Preciso esperar
Eu comprei aquele livro
Eu preciso esperar
Preciso comprar uma casa
Também preciso esperar
Quero conhecer a NASA
Ainda preciso esperar

Por isso que eu digo
Paciência é uma ciência
O mundo não é o meu umbigo
É preciso proficiência
Depois de muito esperar
Tive de me adaptar
E fazer o que você diz
Pra tentar ser um pouco feliz. 

Devo pagar meus boletos
O banco não vai esperar
Tenho que entregar meus textos
O chefe não vai esperar
E devo lavar as vasilha
Minha mãe não vai esperar
Tenho que ir pra Brasília
O busão não vai esperar

Devo por comida pros bicho
O cachorro não vai esperar
Devo jogar lá fora o lixo
O caminhão não vai esperar
O ônibus tá atrasado
O compromisso não vai esperar
E eu to aqui apaixonado
Ela não vai me esperar

Por isso que eu digo
Paciência é uma ciência
O mundo não é o seu umbigo 
É preciso proficiência
Mas ninguém quer esperar
E tenho que me desdobrar
Pra conseguir sobreviver
E se não for desse jeito
De fome ou de desgosto vou morrer

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Maurício Lissovsky, Quidi Vidi Lake e bolinho canadense

Em suas andanças pelo Canadá, o professor Maurício Lissovsky chegou ao Lago Quidi Vidi. Mas de onde veio esse nome? (Silverchemist/Wikimedia Commons)

No fim de agosto, o professor Maurício Lissovsky, que deu aula de roteiro na UFRJ, faleceu. Sempre que eu lembro do Maurício, eu me lembro de duas coisas. A primeira é o dia que o atendi no check in da firma, lá no Galeão. A segunda (que na verdade é a primeira, mas aqui fica como segunda pra encaixar melhor no texto), é uma história que ele sempre contava sobre uma viagem que ele fez pelo Canadá. Mais especificamente, para um bairro lá no fim do Canadá, chamado Quidi Vidi.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Conversando sobre a letra de Enamorado Tuyo, de El Cuarteto de Nos

A ironia do El Cuarteto de Nos começa pelo fato de serem 5 pessoas. (Wikimedia Commons)

Eu tenho um objetivo nesse ano: estar entre o 1% que mais ouviu El Cuarteto de Nos no Spotify em 2022. Considerando o tanto que estou viciado nessa banda uruguaia, eu acho que vou chegar nessa meta com uma certa facilidade. Inclusive, estou escrevendo isso enquanto escuto El Cuarteto de Nos.

Tá, mas quem é El Cuarteto de Nos?

É uma banda de rock que se formou em Montevidéu, lá em 1980. A banda nasceu de uma brincadeira que os irmãos Roberto e Ricardo Musso faziam na época. Eles inventaram uma cidade chamada Tajo e começaram a escrever canções inspiradas nos moradores dessa cidade. Então, Santiago Tavella, amigo de Ricardo, se juntou aos irmãos e, juntos, começaram a tocar. Só que no início, a banda não tinha letras nas músicas. Isso porque os membros não gostavam do que escreviam. Foi só depois de verem uma apresentação do músico Leo Maslíah que decidiram escrever letras ácidas e cheias de sarcasmo.

A banda passou a se chamar El Cuarteto de Nos em 1984, quando gravaram o disco Alberto Wolff y El Cuarteto de Nos, com o músico... Alberto Wolff. Pra resumir a história. De 1984 até hoje, eles gravaram nada menos do que 16 discos. Ao longo da carreira, lançaram diversas músicas polêmicas, tipo El Dia Que Artigas se Borrachó (O Dia que Artigas se Embebedou). Esse Artigas é José Gervasio Artigas, o principal herói nacional do Uruguai. A música deu tanto problema que foi censurada pelo governo do país. Isso em 1996, muitos anos depois do fim da ditadura. Enfim o sucesso internacional veio com o maravilhoso disco Raro, de 2006, onde apostaram numa sonoridade complexa e em letras compridas. Muitas delas com tons de rap. Sério, o disco é incrível! E talvez você já tenha ouvido a banda Vespas Mandarinas cantar Já Não Sei o Que Fazer Comigo. Pois é, essa música é uma versão em português de Ya No Se Que Hacer Conmigo, a melhor música da banda na minha opinião.

Os caras usam e abusam de sarcasmo e humor ácido pra fazer críticas à sociedade, ao consumismo, a tudo e todos. Talvez por isso, apesar de eles terem 40 anos de estrada, ainda fazem sucesso com o público jovem e adolescente. São 40 anos de estrada e o público sempre se renovando. É só ver a quantidade de adolescente e jovens adultos nos shows da banda. O disco Porfiado é um dos meus favoritos. De novo, usa e abusa de sarcasmo e de letras ácidas e é muito bom para escutar quando você está com raiva do trabalho, do mundo e até de si mesmo. E, no meio de toda essa raiva e rock que vai do eletrônico pro pesado tem uma cumbia, que fala de amor. E fala de amor de uma forma gostosamente sarcástica.

Vamos falar de Enamorado Tuyo, ou Apaixonado por Você em português.


Y si te parece que
Yo estoy enamorado tuyo
Eso es un invento, intuyo
No des crédito a murmullos
Porque casi nunca llamo
Para decir que te amo
Y mas de una vez lo hice
A un numero equivocado

Cara, é simplesmente a melhor música de amor que eu já ouvi. Isso porque me lembra demais a minha adolescência quando era claro que eu estava apaixonado pelas meninas e eu tentava negar isso. É isso a letra, o cara tá falando que, se parece que ele tá apaixonado, isso é só uma impressão da garota. Ele quase nunca liga pra dizer que a ama. Quando liga, e já ligou mais de uma vez, foi por engano.

Sei.

Casi nunca nadie dice
Que yo estoy enamorado tuyo

Velho, isso é poesia pura. "Quase nunca ninguém diz que estou apaixonado por você".

Raramente desespero
Por tenerte aquí a mi lado
Y eso no significa
Que tenga un significado
Si pensás que amor yo siento
Por favor no hagas pamento
No comentes con tu gente
Sobre nuestro asunto

Casi nunca nadie dice
Que yo estoy enamorado tuyo

Ele quase não fica desesperado ao lado dela. E isso não significa que tenha algum significado. Quem nunca tropeçou nas próprias palavras (ou nas próprias pernas) estando perto da arroba? Ele ainda pede para ela desconsiderar caso ache que ele a ama... mas, por via das dúvidas, não comenta com ninguém sobre aquilo. Afinal, quase ninguém diz que ele está apaixonado por ela. Vamos pro refrão.

No te vistas, no te hagas la nunca vista
Tengo en vista cantarte un hasta la vista
No te vistas, no te hagas la nunca vista
Tengo lista una canción que dice
Hasta la vista, señorita

Ele pede pra que ela não se faça de desentendida, desconfiando que ele a ama. A prova que ele não a ama e que já escreveu uma música onde diz: "hasta la vista".

E agora vem a melhor parte da música

Casi nunca veo la foto
Tuya en mi celular
Sigue ahí por la pereza
Que me da apretar borrar
No estoy tan obsesionado
Vale como aclaración
Si pensás que es por eso
Que yo canto esta canción

Casi nunca nadie dice
Que yo estoy enamorado tuyo

Ele tem uma foto dela no celular. Mas só tá lá ainda porque tem preguiça de apertar o botão pra deletar a foto. Mas pouco importa, ele quase nunca vê a foto dela lá. É bom deixar claro que não está obcecado pela pessoa. Afinal, se ele tá cantando essa canção, ela pode pensar que é por estar apaixonado. Não é por isso. Afinal, quase nunca as pessoas dizem que ele está apaixonado por ela.

E aí voltamos para o refrão e a repetição de algumas estrofes.

No te vistas, no te hagas la nunca vista
Tengo en vista cantarte un hasta la vista
No te vistas, no te hagas la nunca vista
Tengo lista una canción que dice
Hasta la vista, señorita

Y si te parece que
Yo estoy enamorado tuyo
Eso es un invento, intuyo
No des crédito a murmullos
Porque casi nunca llamo
Para decir que te amo
Y mas de una vez lo hice
A un numero equivocado

Casi nunca nadie dice
Que yo estoy enamorado tuyo

No te vistas, no te hagas la nunca vista
Tengo en vista cantarte un hasta la vista
No te vistas, no te hagas la nunca vista
Tengo lista una canción que dice
Hasta la vista, señorita

De novo, eu adoro esse sarcasmo da banda. Esse disse-não-disse, esse jogo de palavras! Depois volto pra falar de mais alguma letra do El Cuarteto de Nos, que rende análises mais profundas.

terça-feira, 26 de julho de 2022

Do pneu furado ao pesadelo

Publiquei esse texto originalmente no Portão 1, em 26 de outubro de 2020



- Com sua atenção, senhoras e senhores, gostaríamos de convidá-los para o embarque do voo Avianca Star Alliance 6216, com destino a Brasília…

Com esse anúncio, os passageiros se reuniram em frente ao portão para o último voo da companhia que partiria do Galeão naquela noite. Tudo na mais perfeita normalidade. A gente já estava aliviado, tinha dado tudo certo naquela noite. Iríamos fazer o embarque daquele último voo, que decolaria as 21h30. Às 22 horas, bateríamos o cartão e pegaríamos o ônibus/BRT/metrô pra casa. Nada mais normal, nada mais rotineiro… até o mecânico subir a bordo do avião e conversar com o comandante. O comando desceu até o pátio e, verificando o que o mecânico havia mostrado, chamou um dos nossos colegas de terra pra cabine de comando. E deu a notícia. Foi verificado um desgaste acima do normal em um dos pneus da aeronave. Ele precisaria ser trocado.

sexta-feira, 3 de junho de 2022

Avião Vermelho


Meu amor

Eu sei que você não vai escutar

De mim você foi se afastar

Mas preciso descarregar a dor


É que nada me deixava mal

Até São Paulo era legal

Quando o mundo era menos cruel

E ainda tinha avião vermelho

Atravessando o céu


quinta-feira, 5 de maio de 2022

Turbulência

foto: Lucas Conrado

O avião corta o céu tranquilo da Paraíba, a uns 12 quilômetros do chão, voando a 900 km/h. A monotonia reina na aeronave. Passageiros dormem. Tripulantes tentam passar o tempo.

Tudo está calmo. Não fosse o som dos motores, poderia-se dizer que o Embraer estava parado, de tão calma que estava a noite. Apesar da calmaria, seu estômago se revirava e ficava gelado, como se estivesse numa turbulência. Na verdade, a única turbulência daquela noite havia acontecido quando o avião estava no chão. E ele deu um abraço de despedida.